segunda-feira, 29 de junho de 2015

Um Domingão diferente



O posicionamento político da atriz Marieta Severo em pleno Domingão do Faustão tem dado o que falar nas redes sociais, como costumam dizer os mais velhos “foi um tapa com luva de pelica”. Uma daquelas reviravoltas que deixa qualquer apresentador, mesmo os mais experientes, sem ação. E para deixar tudo muito mais interessante dentro de um espaço extremamente hostil a quem concorda com governo. A maior emissora de televisão do país tem usado todas as ferramentas, possíveis e imagináveis, para deslegitimar as eleições presidenciais de 2014. A posição da atriz não é surpresa, assim como, as intervenções e analises politicas desastradas do apresentador Fausto Silva, travestidas de uma pseudoprofundidade, e que há quase 30 anos segue falando e não deixando ninguém falar.
A proposta não é o de julgar a fala da atriz ou de defenestrar o comportamento do apresentador, em determinados momentos política se torna uma questão de olhar, de visão do mundo e que tipo de lugar se deseja construir. Não espanta o fato de Faustão estar posicionado a direita e Marieta à esquerda, não é isso o que chama atenção. A emissora se porta de maneira dicotômica quando se trata de política, aliás, o discurso é extremamente contraditório enquanto as produções de teledramaturgia reivindicam liberdade para se expressar, em âmbito jornalístico é completamente oposto aqueles que são pró-governo acabam boicotados e taxados de cumplices da corrupção.

Certamente vários irão dizer “caso esteja insatisfeito, muda de canal”. É a lógica do “A porta da rua é a serventia da casa”, mas nesse caso essa é uma tese minimalista. Pois, não é simplesmente trocar de canal, como muita gente acredita que vai resolver a questão. A concessão do sinal de radiodifusão é pública e ninguém faz um referendo, plebiscito, pesquisa ou qualquer tipo de pergunta sobre o formato de revalidação desse contrato, se a população concorda com o esse sistema de renovação a cada 15 anos, etc. Temas que deveriam ser discutidos por toda sociedade, assim como, a regulamentação da imprensa, mas que é sempre jogado pra debaixo do tapete, não é amplamente divulgado. Enquanto for dessa forma continuaremos ouvindo várias besteiras sem falar nada e nos mais diversos âmbitos. Necessitando de vozes que nos representem, como foi a de Marieta Severo, e enquanto isso os “Faustões” da vida seguem como se fossem cânones ou donos da verdade.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Intolerância Religiosa

Foto: Pierre "Fatumbi"Verger


Apesar de só ter ganhado destaque há pouco tempo à intolerância religiosa não é exatamente uma novidade para quem conhece a história das religiões de matrizes africanas no Brasil, apesar dos casos parecerem isolados, essa é uma prática comum que já foi até legitimada pelo Estado brasileiro. Em épocas coloniais o sincretismo religioso foi à maneira encontrada pelos negros escravizados, durante a diáspora africana, para cultuarem a sua religião ancestral, na década de 1940, a famosa Iyalorixá baiana, Mãe Menininha do Gantois teve duas passagens registradas na polícia acusada de tocar candomblé. O Brasil mesmo sendo um Estado Laico, com o direito à liberdade de credo, assegurado pela constituição, contabiliza inúmeros os casos de terreiros de candomblé e umbanda invadidos e destruídos por manifestações de ódio religioso.
Esse tipo de ataque, na maioria das vezes, é associado aos fiéis das Igrejas Evangélicas que tem por costume desqualificar os cultos de matrizes africanas, taxando-os como adoradores do diabo. Na idade média a Igreja Católica Apostólica Romana, condenava a fogueira da inquisição aqueles que eram considerados como hereges. Max Weber - A ética protestante e o “espírito” do capitalismo - se propõe a explicar o ascetismo do cristão protestante, fazendo uma correlação com o sistema capitalista.
Por aqui insistimos em dizer que somos um povo cordial, que o racismo é uma alucinação persecutória de negros em busca de reparação histórica. Vivemos o mito da igualdade através um discurso homogeneizante, que nos paralisa e nos impede de entrar em contato com as nossas falências sociais, tentamos o tempo inteiro tampar as nossas carências afetivas, nossos preconceitos e por fim a crueldade inerente à natureza humana, e principalmente, a limitação existente em aceitarmos as diferenças que nos compõe enquanto sociedade. 
A mídia tem noticiado os casos de intolerância religiosa, no Domingo (14/06), uma menina de 11 anos junto com seus parentes e irmãos de santo foi apedrejada quando ia para um terreiro de candomblé na Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. Na Zona Norte da mesma cidade, o Morro do Amor, localizado no bairro do Lins, traficantes frequentadores de Igrejas evangélicas não toleravam os adeptos das religiões de origem africana, chegando a expulsar do local uma moradora que era mãe-de-santo.

Vivemos uma época que a sociedade está cercada por um discurso moralizante, onde o conservadorismo tem aparecido recorrentemente fundamentando, incentivando e disseminando um discurso, segregacionista que é amparado pelo Estado. Como se explica em um Estado Laico a concessão pública dos sinais de radiodifusão pertencer a líderes religiosos? As duas casas parlamentares possuem as famosas bancadas religiosas, a câmara dos deputados foi o palco para um ato de protesto composto por cartazes e orações contra Parada gay, Marcha das Vadias e Marcha contra Maconha. Quando a intolerância é praticada pelos representantes políticos, eleitos pelo povo de forma democrática, mas com o nítido intuito de fragmentar a nação, e sem qualquer intervenção do judiciário ou mobilização social, qualquer movimento acaba se tornando um ato legitimado.

sábado, 20 de junho de 2015

Informação descontextualizada



Os últimos acontecimentos têm mostrado o quanto mundo caminha a passos largos para uma ampliação da era do conservadorismo e do patrulhamento. Assistimos em terras brasileiras, especialmente após o período eleitoral de 2014, o crescimento das bancadas conservadoras nas duas casas parlamentares que compõem o governo, além do recrudescimento de ideários vistos no inicio do século XX e a reprodução de discursos fascistas, muitas vezes alimentados pela imprensa. Em tempos onde são pregados valores como liberdade sexual, liberdade religiosa, igualdade entre gêneros, etc. Negros, homossexuais e mulheres não têm a integridade física garantida. Fico imaginando como se sente uma pessoa que reúne essas três características. Duas notícias comprovaram como a imprensa age de forma tendenciosa ao tratar das questões simples e cotidianas como se fossem estanques e não fizessem parte de um mesmo cenário, descontextualizar os fatos é a forma encontrada para não aprofundar os problemas.

A primeira delas foi o esquema de corrupção protagonizado pela Federação Internacional de Futebol, mais conhecida pela sigla FIFA. O FBI (Agencia Federal de Investigação), estadunidense, o equivalente a Polícia Federal no Brasil, reuniu provas que comprovavam fraude nas escolhas das sedes do mundial de 2018 e 2022, o enriquecimento escuso de presidentes das federações de futebol ao redor do mundo. A investigação levou a prisão de dirigentes, dentre eles, o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin, a renuncia de Joseph Blatter, que tinha sido reeleito presidente da entidade, questionava o lucro obtido na Copa de 2014 e vários outros fatores que ajudavam a entender como a FIFA se tornou uma potência econômica com poder de alterar constituições de países em prol da realização do seu maior evento, a Copa do Mundo.

O que levou o FBI a realizar a investigação foi pura e simplesmente retaliação. A questão fundamental que deve ser analisada é a seguinte: Como uma potência econômica do porte dos Estados Unidos disposta a sediar a copa de 2022, perdeu para o Qatar a chance de levar o mundial ao seu país?
Suceder a Rússia, inimigo histórico, que será a sede de 2018, que brigou com a Ucrânia pela posse da Criméia, mesmo com a negativa do conselho de segurança da ONU, é outro fator motivador que também deve ser levado em conta. Logo após plebiscito o território foi anexado a Rússia, o que contrariou frontalmente o governo de Barack Obama e parte da Europa. Vale salientar a importância da região no abastecimento do gás natural que vai para continente europeu, tendo em vista que 80% dos gasodutos que levam a mercadoria passam pela região, ou seja, uma relação que no mínimo poderia ser classificada como conturbada. A imprensa nacional rechaçou a ideia de retaliação dos EUA, pois existe legitimidade na investigação sobre a corrupção na FIFA, e que esses fantasmas do período da Guerra Fria já foram enterrados, os canais especializados então nem quiseram comentar o fato. A Rússia pode perder a oportunidade de sediar a Copa do Mundo de 2018, se for comprovada manipulação na escolha do resultado. Essa é a mesma imprensa que há meses atrás tinha medo que uma revolução comunista tomasse conta do país e espelhava que existia um plano para tornar o país uma nova Venezuela.

No último sábado em meio a toda crise do futebol mundial Barcelona e Juventus de Turim protagonizaram a final da Champions League, por muitos, considerado o maior torneio de clubes do mundo. Pela quinta vez o clube Catalão se tornaria campeão do torneio, o último gol da partida foi feito pelo atacante Neymar, eleito pela imprensa esportiva nacional, o melhor atleta brasileiro da atualidade, atuando na Europa. Durante a comemoração do título o jogador coloca na testa uma faixa escrita “100% Jesus”. Em tempos de intolerância religiosa e de Sheiks Árabes investindo as suas fortunas em clubes de futebol, o jogador brasileiro cometeu um pecado capital. Na verdade o pecado que o jogador cometeu foi contra o capital, já que seu clube é patrocinado pela Qatar Airways.

O ato teve repercussão mundial, principalmente na França, onde todos os jornais reprovaram o jogador por se expressar religiosamente. O conceito de Estado Laico na França deve ser diferente do resto do mundo. Já não somos mais Charlie? Como se não bastasse os EUA atuarem como a polícia do mundo, a França acaba de se tornar a professora de etiqueta e de educação religiosa da humanidade.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Desencontros num programa de TV

    


      No dia 20 de novembro (quarta-feira) foi celebrado o dia da Consciência Negra, portanto, feriado nacional que tem por objetivo a reflexão sobre o posicionamento do negro na sociedade brasileira. A data escolhida coincide com o aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, considerado um dos símbolos da resistência negra à escravidão de forma geral. Como não poderia deixar de ser, a pauta explorada por todas as mídias, principalmente pela televisão, versava sobre o racismo, a importância cultural do negro e o seu papel no imaginário de uma sociedade que se intitula plural.
   O programa Encontro com Fátima Bernardes, da Rede Globo de Televisão, abordou o tema preconceito racial justamente no dia reservado à Consciência Negra. A proposta era aprofundar a questão através dos depoimentos de representantes da sociedade. O conhecido sofá onde todos se encontram era composto por três atrizes brancas, um ator negro, um cantor de rap negro, uma educadora branca, na função de especialista, um menino negro, por volta dos 10 anos de idade, e um médico negro. A plateia do programa, naquele dia em especial, era composta em sua maioria por pessoas negras.
    É muito interessante ver a forma adotada pelo programa e, logicamente, pela emissora para tocar em um assunto extremamente delicado, para o qual todos insistem em fechar os olhos e acreditar que todas as vezes que o tema é abordado está se tocando em uma velha ferida que já fora cicatrizada com a passagem do tempo.
    Como todo programa de auditório, o da jornalista/apresentadora Fátima Bernardes tem a função de entreter e trazer informação. A semiótica é usada na formação de uma linguagem onde, teoricamente, todas as vozes são representadas. Mais uma vez, a mídia hegemônica tenta disfarçar o seu discurso homogeneizante, através da fala sincrética.

Emoção à distância

     O tempo da televisão costuma ser exíguo. Portanto, exigir aprofundamento em temas complexos se torna extremamente complicado, mas um debate de qualidade é possível. O programa reproduziu o velho racismo ao qual estamos acostumados a assistir. Fátima cumpriu o seu papel de apresentadora, mas a fórmula jornalística esteve, como sempre, presente na atração. Uma prática comum no jornalismo ter a figura do especialista, o estudioso que fundamenta a argumentação, neste caso representada pela educadora branca. Outra vez, o negro não é chamado para debater questões pertinentes aos seus pares. É como se não existissem pensadores negros, capazes de discutir a história do seu povo e o seu posicionamento na mídia.
      Aos negros presentes, sentados ao sofá, restaram os relatos empíricos. Foram realizados os velhos questionamentos, os convidados negros contaram como fazem para se defender do racismo sofrido diariamente. Naquele momento, a oportunidade de reforçar e criar uma referência para o menino negro – que estava justamente reivindicando e relatando o quanto lhe causava estranheza a ausência de personagens que retratem a história do seu povo – foi jogada fora.
     No grande jogo das representações, ao qual a televisão pertence, mais uma vez é oferecida ao branco a voz para falar de uma prática que sempre foi perpetrada por ele mesmo, e lhe foi dado o lugar do intelectualmente superior. Quando assistimos a esse tipo de prática, um debate que tinha tudo para ser enriquecedor acabou se diluindo. A televisão, quando faz isso, desperdiça todo o seu potencial educacional. Naquela manhã de quarta-feira, o Encontro com Fátima Bernardes apenas ratificou o que foi dito por Vinicius de Moraes no “Samba da Benção”: “Porque o samba nasceu lá na Bahia./ E se hoje ele é branco na poesia./ Se hoje ele é branco na poesia./ Ele é negro demais no coração.” Aos negros cabe apenas o lugar da emoção à distância da intelectualidade, do pensamento pertence aos brancos. Enquanto for dessa forma, será mínimo o número de negros nos cursos de medicina, direito e engenharia. Enquanto isso, a universidade segue dividida em cursos para negros e cursos para brancos. É o tudo segregado e separado, trajado de tudo junto e misturado.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Macaco, olha o seu rabo



O jogo Cruzeiro e Real Garcilaso, pela primeira fase da Taça Libertadores da América na quarta-feira (11/2), foi marcado pelo show de intolerância e pela falta de educação dos torcedores do time peruano. O jogador Tinga, ao pegar na bola era xingado, vaiado e humilhado no estádio Huancayo, no Peru. Da arquibancada eram emitidos sons e gestos característicos de macacos com o intuito de desqualificar o jogador.
 As imagens, que correram o mundo, causaram espanto e indignação. Ao terminar a partida, o jogador estava emocionado e incomodado. Deu uma entrevista à beira do campo dizendo que trocaria todos os títulos da carreira por uma solução que erradicasse definitivamente o racismo dos estádios em todo mundo. No Brasil, a cobertura esportiva foi intensa. A imprensa não perdeu tempo, repudiou os atos racistas da torcida, cobrou uma postura enérgica da CBF e Comenbol (Confederação Sul-Americana de Futebol).
 A imprensa esportiva mais uma vez demonstra certa dificuldade em tratar das questões que fogem ao âmbito esportivo. Falta aprofundamento, um debate em que sociedade e imprensa caminhem de mãos dadas, com objetivo de deslindar a questão ou quem sabe até mesmo criar uma mesa redonda para discutir essa relação entre preconceito e esporte. Esse é um fenômeno atual, ou será que sempre foi dessa forma? A imprensa esportiva simplesmente apontou o dedo para os atos racistas da torcida peruana esquecendo-se de olhar para dentro de casa. Será que nós, brasileiros, não somos racistas?
 As teorias racialistas existem desde o século 19 até a ciência foi usada para tentar comprovar a inferioridade intelectual dos negros. O que se viu durante o desdobramento da história do jogador Tinga foi desconhecimento ou até mesmo desinformação por parte de quem pretendia discutir o assunto. Alguns colunistas esportivos, em sites, rádios e jornais, afirmavam categoricamente que a América do Sul é um continente atrasado, preconceituoso e hipócrita. Mas essa não é uma situação diferente no continente europeu – por lá, os atos racistas tem sido cada vez mais recorrentes. Comentários como esse, que vimos e ouvimos disseminados pela mídia, são tão preconceituosos quanto os atos racistas vistos no Peru.
 O brasileiro acredita que vive em uma democracia racial, luta pela manutenção da imagem do homem cordial e esquece o quanto o racismo está entranhado no cotidiano. A questão não é apenas cultural, social ou econômica, pois colocar o racismo ancorado nesses pilares é minimizar e naturalizar tema. A sociedade fecha os olhos para o preconceito racial, que só parece existir quando o jogador é achincalhado ou quando a manicure é discriminada pela cliente no salão de beleza.
 Da chegada de médicos cubanos, recebidos de forma hostil, à quantidade de jovens negros que são mortos pela polícia na guerra das ruas e o fato de termos que programar um sistema de cotas para que negros e pobres tenham acesso ao ensino superior são exemplos que mostram o quanto o racismo está arraigado na sociedade.
 Uma das funções do jornalismo é prestação de serviço, tocar em questões que incomodam. O que é reproduzido no futebol é o reflexo do que ocorre na sociedade como um todo. Enquanto não olharmos o quanto somos racistas, enquanto não tentarmos entender a origem do nosso preconceito, as cenas que ocorreram com o jogador do Cruzeiro, além de outras que fingimos não enxergar, irão se repetir.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A rede social como ferramenta de trabalho





      Em tempos de globalização, conseguimos observar tudo o que foi preconizado pelos pensadores de Frankfurt, por Marshall McLuhan, por Guy Debord e outros teóricos sobre temas como indústria cultural, aldeia global, a espetacularização da notícia e da sociedade. Na era da convergência digital, a rede social tem a sua função potencializada. O trabalho de apuração jornalística, apesar de entender que as grandes pautas estão nas ruas, acaba utilizando a internet como ferramenta de trabalho, portanto seria tolice negar a sua importância.

      Nas últimas semanas, acompanhamos o vídeo que mostrava a atuação de um policial militar nas ruas de São Paulo que, ao perceber um assalto em andamento, saiu do veículo em que estava e feriu o assaltante no momento em que este praticava o delito. As imagens, que foram colocadas em um site de compartilhamento de vídeos, ganharam notoriedade instantânea e pautaram os telejornais do país que reproduziram exaustivamente o conteúdo. Como de costume, especialistas em segurança pública, entre outros especialistas, expuseram as suas análises. Muitos disseram que o policial agiu corretamente e usaram a velha máxima deixada por um ex-delegado – “Bandido bom é bandido morto.” Ideia que foi defendida por muitos debatedores nas mesas das rádios e nas conversas do dia a dia que costumam ser agendadas pela grande imprensa.

      A indignação contra os manifestantes que quebram os caixas eletrônicos das instituições financeiras, assim como vidraças de grandes conglomerados que simbolizam o capitalismo, é total. Mas, quando um policial abate o assaltante é exaltado. A vida vale menos que uma vidraça. É como se o Estado não ajudasse a produzir esse tipo comportamento, ou como se o capitalismo não fomentasse as diferenças sociais. As medidas tomadas são sempre paliativas. Aliás, esse é um momento em que o mundo parece estar de pernas para o ar. Alguns artistas, que foram exilados durante a ditadura militar, resolveram censurar os autores de biografias e passaram a agir como censores. Como se não pudessem recorrer à justiça, reclamam da mídia por não dar espaço para as suas reivindicações e fingem ignorar a relação retroalimentar existente.

      As coberturas jornalísticas feitas pela televisão são semelhantes à transmissão de uma partida de futebol. Permeadas de comentaristas do óbvio, até o formato pode fazer um telespectador mais desatento se confundir. Assim como as transmissões esportivas, os eventos jornalísticos contam com especialistas e câmeras exclusivas posicionadas em ângulos especiais. A grande mídia cumpre com exatidão a sua função de informar sem se aprofundar. A urgência por novas notícias faz com que as fontes fiquem pasteurizadas, tudo se desmancha com muita rapidez, transmitindo a sensação de que a imprensa não tem mais tempo ou paciência para grandes análises ou apurações.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Rock in Rio


O festival de musica Rock in Rio que teve sua trajetória iniciada na década de 80, representou um dos maiores momentos da liberdade de expressão de uma geração que não tinha o costume de ver ídolos internacionais, além de contribuir de forma definitiva com a consolidação do cenário rock’n roll que nascia no país. O brasileiro estava acostumado aos grandes festivais da canção nas décadas de 60 e 70 palco de movimentos como a Bossa Nova, a Jovem Guarda e o Tropicalismo. O primeiro Rock in Rio foi realizado em 1985 apresentava ares de mudança era uma espécie de grito de liberdade de uma geração que nascera sob os grilhões da ditadura militar, e da mão pesada da censura. O país vivia um processo de abertura política lenta e gradual a volta do pluripartidarismo em 1979, as eleições municipais e estaduais diretas em 1982, logo em seguida o retorno dos presos políticos que foram anistiados. Um festival desse porte seria a cereja do bolo, viria coroar os anos de luta contra o governo militar. Os jovens do país estavam em êxtase, era chance de bandas como Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Capital Inicial, Legião Urbana, Blitz dividirem o palco com Queen, Iron Maiden, Whistnakes, Scorpions e AC/DC.
Após um intervalo de seis anos o evento foi novamente realizado, dessa vez o cenário político brasileiro era completamente diferente e o ano era 1991, o palco da vez era o estádio do Maracanã, a modernidade batia a porta, entrávamos na era da instantaneidade o mundo já se encontrava em um franco processo de globalização econômica. Bandas como Guns N’ Roses e Judas Priest que dominavam o cenário musical, iriam se apresentar pela primeira vez no Brasil durante o festival. As bandas brasileiras seriam as remanescentes da primeira edição do Rock in Rio. Em 2001 mais uma edição foi realizada na cidade do Rio de Janeiro, porém grande virada veio no ano 2004 com a internacionalização do festival. Seu idealizador o empresário Roberto Medina resolveu transformar o Rock in Rio em uma marca, um estilo de vida. Dessa vez Lisboa e Madri iriam abrigar o grande festival de música, mas a partir daquele momento seu palco principal seria definitivamente o mundo.
Em 2011 o festival retorna ao seu ponto de partida, com muito mais força na mídia, pois afinal de contas agora possui um “status” de festival internacional. A cobertura jornalista é ampla, uma grande ação envolvendo um planejamento de comunicação e marketing foi desenvolvido e como resultado todas as cotas de patrocínio foram vendidas em tempo recorde, o lucro obtido pelos organizadores do festival foi tão grande que poderiam até abrir mão da venda de ingressos, os lotes se esgotaram em pouquíssimo tempo. Atores, atrizes, celebridades instantâneas e as “personalidades” da mídia disputaram literalmente a tapa os convites para os camarotes vip’s oferecidos pelas empresas que patrocinam o evento. O ex-bilionário Eike Baptista acrescentou a sua coleção de empresas, 50% da Rock World S.A. que é a responsável pelo Rock in Rio. Seu objetivo ao se juntar a Roberto Medina seria o de internacionalizar ainda mais a marca Rock in Rio, com a possibilidade de levar o Festival aos quatro cantos do mundo.
Festivais de música sempre tiveram um caráter revolucionário, o próprio Rock’n Roll é um estilo musical que se notabilizou por ser uma forma de protesto. O Festival de Woodstock, em 1969, foi um movimento contracultura colocava-se em oposição ao sistema capitalista, as desigualdades espalhadas pelo mundo, à guerra fria, pregava o amor livre e foi o auge do movimento Hippie. Uma espécie de grito contra a opressão essa era à proposta feita por tais manifestos. O sistema capitalista transforma em mercadoria tudo aquilo que toca, através de suas práticas mercadológicas e neoliberais. Hoje os tempos são outros, nunca poderíamos imaginar que algumas marcas que sempre foram símbolo de um capitalismo predatório, fossem caminhar de mãos dadas com festivais de rock que sempre foram conhecidos por serem opositores ferrenhos a tais práticas.
O Rock in Rio deixou de ser um grito de liberdade de uma geração que viveu as marcas da ditadura militar e da censura para ser tornar uma marca, “Top of mind”, de uma geração que vive a ditadura do consumo. É essa mesma geração que vai para a rua gritar na manifestação contra os “vinte centavos”, contra a desigualdade, por saúde e educação. Mas, que ao mesmo tempo paga caro para caminhar pelas ruas da Cidade do Rock. O Rock in Rio no começo era aquele garoto que iria mudar o mundo, mas de uns tempos pra cá, passou a frequentar as festas do "Grand Monde". Ideologia! Eu quero uma pra viver.