sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Rock in Rio


O festival de musica Rock in Rio que teve sua trajetória iniciada na década de 80, representou um dos maiores momentos da liberdade de expressão de uma geração que não tinha o costume de ver ídolos internacionais, além de contribuir de forma definitiva com a consolidação do cenário rock’n roll que nascia no país. O brasileiro estava acostumado aos grandes festivais da canção nas décadas de 60 e 70 palco de movimentos como a Bossa Nova, a Jovem Guarda e o Tropicalismo. O primeiro Rock in Rio foi realizado em 1985 apresentava ares de mudança era uma espécie de grito de liberdade de uma geração que nascera sob os grilhões da ditadura militar, e da mão pesada da censura. O país vivia um processo de abertura política lenta e gradual a volta do pluripartidarismo em 1979, as eleições municipais e estaduais diretas em 1982, logo em seguida o retorno dos presos políticos que foram anistiados. Um festival desse porte seria a cereja do bolo, viria coroar os anos de luta contra o governo militar. Os jovens do país estavam em êxtase, era chance de bandas como Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Capital Inicial, Legião Urbana, Blitz dividirem o palco com Queen, Iron Maiden, Whistnakes, Scorpions e AC/DC.
Após um intervalo de seis anos o evento foi novamente realizado, dessa vez o cenário político brasileiro era completamente diferente e o ano era 1991, o palco da vez era o estádio do Maracanã, a modernidade batia a porta, entrávamos na era da instantaneidade o mundo já se encontrava em um franco processo de globalização econômica. Bandas como Guns N’ Roses e Judas Priest que dominavam o cenário musical, iriam se apresentar pela primeira vez no Brasil durante o festival. As bandas brasileiras seriam as remanescentes da primeira edição do Rock in Rio. Em 2001 mais uma edição foi realizada na cidade do Rio de Janeiro, porém grande virada veio no ano 2004 com a internacionalização do festival. Seu idealizador o empresário Roberto Medina resolveu transformar o Rock in Rio em uma marca, um estilo de vida. Dessa vez Lisboa e Madri iriam abrigar o grande festival de música, mas a partir daquele momento seu palco principal seria definitivamente o mundo.
Em 2011 o festival retorna ao seu ponto de partida, com muito mais força na mídia, pois afinal de contas agora possui um “status” de festival internacional. A cobertura jornalista é ampla, uma grande ação envolvendo um planejamento de comunicação e marketing foi desenvolvido e como resultado todas as cotas de patrocínio foram vendidas em tempo recorde, o lucro obtido pelos organizadores do festival foi tão grande que poderiam até abrir mão da venda de ingressos, os lotes se esgotaram em pouquíssimo tempo. Atores, atrizes, celebridades instantâneas e as “personalidades” da mídia disputaram literalmente a tapa os convites para os camarotes vip’s oferecidos pelas empresas que patrocinam o evento. O ex-bilionário Eike Baptista acrescentou a sua coleção de empresas, 50% da Rock World S.A. que é a responsável pelo Rock in Rio. Seu objetivo ao se juntar a Roberto Medina seria o de internacionalizar ainda mais a marca Rock in Rio, com a possibilidade de levar o Festival aos quatro cantos do mundo.
Festivais de música sempre tiveram um caráter revolucionário, o próprio Rock’n Roll é um estilo musical que se notabilizou por ser uma forma de protesto. O Festival de Woodstock, em 1969, foi um movimento contracultura colocava-se em oposição ao sistema capitalista, as desigualdades espalhadas pelo mundo, à guerra fria, pregava o amor livre e foi o auge do movimento Hippie. Uma espécie de grito contra a opressão essa era à proposta feita por tais manifestos. O sistema capitalista transforma em mercadoria tudo aquilo que toca, através de suas práticas mercadológicas e neoliberais. Hoje os tempos são outros, nunca poderíamos imaginar que algumas marcas que sempre foram símbolo de um capitalismo predatório, fossem caminhar de mãos dadas com festivais de rock que sempre foram conhecidos por serem opositores ferrenhos a tais práticas.
O Rock in Rio deixou de ser um grito de liberdade de uma geração que viveu as marcas da ditadura militar e da censura para ser tornar uma marca, “Top of mind”, de uma geração que vive a ditadura do consumo. É essa mesma geração que vai para a rua gritar na manifestação contra os “vinte centavos”, contra a desigualdade, por saúde e educação. Mas, que ao mesmo tempo paga caro para caminhar pelas ruas da Cidade do Rock. O Rock in Rio no começo era aquele garoto que iria mudar o mundo, mas de uns tempos pra cá, passou a frequentar as festas do "Grand Monde". Ideologia! Eu quero uma pra viver.