Foto: Pierre "Fatumbi"Verger |
Apesar de
só ter ganhado destaque há pouco tempo à intolerância religiosa não é
exatamente uma novidade para quem conhece a história das religiões de matrizes
africanas no Brasil, apesar dos casos parecerem isolados, essa é uma prática
comum que já foi até legitimada pelo Estado brasileiro. Em épocas coloniais o
sincretismo religioso foi à maneira encontrada pelos negros escravizados,
durante a diáspora africana, para cultuarem a sua religião ancestral, na década
de 1940, a famosa Iyalorixá baiana, Mãe Menininha do Gantois teve duas
passagens registradas na polícia acusada de tocar candomblé. O Brasil mesmo
sendo um Estado Laico, com o direito à liberdade de credo, assegurado pela
constituição, contabiliza inúmeros os casos de terreiros de candomblé e umbanda
invadidos e destruídos por manifestações de ódio religioso.
Esse tipo
de ataque, na maioria das vezes, é associado aos fiéis das Igrejas Evangélicas
que tem por costume desqualificar os cultos de matrizes africanas, taxando-os
como adoradores do diabo. Na idade média a Igreja Católica Apostólica Romana,
condenava a fogueira da inquisição aqueles que eram considerados como hereges.
Max Weber - A ética protestante e o “espírito” do capitalismo - se propõe a
explicar o ascetismo do cristão protestante, fazendo uma correlação com o
sistema capitalista.
Por aqui
insistimos em dizer que somos um povo cordial, que o racismo é uma alucinação
persecutória de negros em busca de reparação histórica. Vivemos o mito da
igualdade através um discurso homogeneizante, que nos paralisa e nos impede de
entrar em contato com as nossas falências sociais, tentamos o tempo inteiro
tampar as nossas carências afetivas, nossos preconceitos e por fim a crueldade
inerente à natureza humana, e principalmente, a limitação existente em
aceitarmos as diferenças que nos compõe enquanto sociedade.
A mídia
tem noticiado os casos de intolerância religiosa, no Domingo (14/06), uma
menina de 11 anos junto com seus parentes e irmãos de santo foi apedrejada
quando ia para um terreiro de candomblé na Vila da Penha, subúrbio do Rio de
Janeiro. Na Zona Norte da mesma cidade, o Morro do Amor, localizado no bairro
do Lins, traficantes frequentadores de Igrejas evangélicas não toleravam os
adeptos das religiões de origem africana, chegando a expulsar do local uma
moradora que era mãe-de-santo.
Vivemos
uma época que a sociedade está cercada por um discurso moralizante, onde o
conservadorismo tem aparecido recorrentemente fundamentando, incentivando e disseminando
um discurso, segregacionista que é amparado pelo Estado. Como se explica em um
Estado Laico a concessão pública dos sinais de radiodifusão pertencer a líderes
religiosos? As duas casas parlamentares possuem as famosas bancadas religiosas,
a câmara dos deputados foi o palco para um ato de protesto composto por cartazes
e orações contra Parada gay, Marcha das Vadias e Marcha contra Maconha. Quando
a intolerância é praticada pelos representantes políticos, eleitos pelo povo de
forma democrática, mas com o nítido intuito de fragmentar a nação, e sem
qualquer intervenção do judiciário ou mobilização social, qualquer movimento acaba
se tornando um ato legitimado.
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