terça-feira, 23 de junho de 2015

Intolerância Religiosa

Foto: Pierre "Fatumbi"Verger


Apesar de só ter ganhado destaque há pouco tempo à intolerância religiosa não é exatamente uma novidade para quem conhece a história das religiões de matrizes africanas no Brasil, apesar dos casos parecerem isolados, essa é uma prática comum que já foi até legitimada pelo Estado brasileiro. Em épocas coloniais o sincretismo religioso foi à maneira encontrada pelos negros escravizados, durante a diáspora africana, para cultuarem a sua religião ancestral, na década de 1940, a famosa Iyalorixá baiana, Mãe Menininha do Gantois teve duas passagens registradas na polícia acusada de tocar candomblé. O Brasil mesmo sendo um Estado Laico, com o direito à liberdade de credo, assegurado pela constituição, contabiliza inúmeros os casos de terreiros de candomblé e umbanda invadidos e destruídos por manifestações de ódio religioso.
Esse tipo de ataque, na maioria das vezes, é associado aos fiéis das Igrejas Evangélicas que tem por costume desqualificar os cultos de matrizes africanas, taxando-os como adoradores do diabo. Na idade média a Igreja Católica Apostólica Romana, condenava a fogueira da inquisição aqueles que eram considerados como hereges. Max Weber - A ética protestante e o “espírito” do capitalismo - se propõe a explicar o ascetismo do cristão protestante, fazendo uma correlação com o sistema capitalista.
Por aqui insistimos em dizer que somos um povo cordial, que o racismo é uma alucinação persecutória de negros em busca de reparação histórica. Vivemos o mito da igualdade através um discurso homogeneizante, que nos paralisa e nos impede de entrar em contato com as nossas falências sociais, tentamos o tempo inteiro tampar as nossas carências afetivas, nossos preconceitos e por fim a crueldade inerente à natureza humana, e principalmente, a limitação existente em aceitarmos as diferenças que nos compõe enquanto sociedade. 
A mídia tem noticiado os casos de intolerância religiosa, no Domingo (14/06), uma menina de 11 anos junto com seus parentes e irmãos de santo foi apedrejada quando ia para um terreiro de candomblé na Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. Na Zona Norte da mesma cidade, o Morro do Amor, localizado no bairro do Lins, traficantes frequentadores de Igrejas evangélicas não toleravam os adeptos das religiões de origem africana, chegando a expulsar do local uma moradora que era mãe-de-santo.

Vivemos uma época que a sociedade está cercada por um discurso moralizante, onde o conservadorismo tem aparecido recorrentemente fundamentando, incentivando e disseminando um discurso, segregacionista que é amparado pelo Estado. Como se explica em um Estado Laico a concessão pública dos sinais de radiodifusão pertencer a líderes religiosos? As duas casas parlamentares possuem as famosas bancadas religiosas, a câmara dos deputados foi o palco para um ato de protesto composto por cartazes e orações contra Parada gay, Marcha das Vadias e Marcha contra Maconha. Quando a intolerância é praticada pelos representantes políticos, eleitos pelo povo de forma democrática, mas com o nítido intuito de fragmentar a nação, e sem qualquer intervenção do judiciário ou mobilização social, qualquer movimento acaba se tornando um ato legitimado.

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