quinta-feira, 28 de junho de 2012

A morte do futebol arte


No dia 05 de Julho de 1982 foi decretada a morte do futebol arte em pleno Estádio Sarriá, na cidade de Barcelona, que por uma dessas coincidências reservadas pela vida é hoje a cidade que abriga o clube com o futebol mais encantador do planeta, de alguma forma Barcelona tenta nos devolver o encanto perdido, após aquele fatídico dia. O Brasil era favorito absoluto a Copa do mundo daquele ano jogava um futebol encantador não se contentava em apenas ganhar, o espetáculo fazia sempre parte do pacote, eram verdadeiras aulas de como jogar futebol. A escola brasileira estava realmente bem representada a primeira fase foi primorosa, a seleção passava pelos adversários sem tomar conhecimento, e o título era dado como líquido e certo não havia motivos para hesitações o país estava em festa.
Telê Santana havia levado a nata do futebol brasileiro, com exceção de um ou dois nomes o elenco era contemplado pelo que existia de melhor naquela safra de jogadores. No dia do jogo contra a Itália todos acreditavam em mais uma exibição do time brasileiro, a derrota seria um resultado inconcebível, naquela altura do campeonato a talentosa seleção brasileira de 82, jamais, perderia para uma seleção Italiana sem graça, apagada e monocromática, mas quando se trata de futebol o impossível pode acontecer e aquela talentosa seleção será para sempre lembrada como a seleção que encantou porém, não levou o título foi exatamente naquele momento que o futebol arte sucumbiu.
 Zico e todos os outros jogadores que participaram daquela copa ficaram marcados como perdedores, foram crucificados por um país carente de boas referências que romanticamente deposita todas as esperanças de uma vida melhor em jogadores de futebol. Vencer torneios intercontinentais amplia a sensação de pertencimento das pessoas, e não fazer parte da festa é o mesmo que ir contra a uma nação que é reconhecidamente a “Pátria de chuteiras”. A Itália acabou como campeã da Copa da Espanha, e o futebol arte nunca mais se restabeleceu depois desse duro golpe. Na Copa do México em 86 a seleção brasileira não era considerada favorita absoluta ao título, mas coração de torcedor nunca perde a esperança, o Brasil acabou eliminado pela França, nas quartas - de - final do torneio.
 Logo após a Copa de 1986, os técnicos brasileiros abraçam um conceito, que se ratifica durante a Copa da Itália em 1990. Jogar bonito e oferecer ao público um verdadeiro espetáculo tornou-se secundário o importante é vencer. O mundo apresentava mudanças em sua estrutura via-se uma alteração na Ordem Mundial, o planeta não era mais bipolarizado, a idéia de uma aldeia global, prevista por Marshall Mcluhan nos anos 60 florescia era o começo de uma possível homogeneização cultural. As relações tornaram-se fluídas, a sociedade foi atravessada por práticas neoliberais, observou-se o ressurgimento de grupos ultranacionalistas de direita, radicais e intolerantes por toda Europa. A globalização reforçou as barreiras sociais e econômicas, mas o aumento no fluxo de informações dava sensação de maior liberdade.

Valorizando as conquistas
Assim como o mundo o futebol se transformou, tornou-se altamente profissional, já não acalanta apenas o imaginário infantil, empresários e clubes buscam talentos na mais tenra idade. Os técnicos não incentivam mais o lúdico, o drible, a ginga. O importante é fazer o que for preciso para obter a vitória, foi com essa mentalidade que atravessamos as décadas acompanhando a morte do futebol arte, onde o físico se sobrepõe ao talento, um futebol onde à figura do craque foi se apagando, aliás, a própria palavra craque acabou sendo banalizada. 
A campanha do Corinthians até chegar final da Copa Libertadores da América, apesar de eficiente, é uma prova que a mentalidade européia assola a maioria dos técnicos brasileiros. Uma campanha ausente, insossa, sem qualquer expressão artística e sem alma. Mesmo assim, à imprensa esportiva exalta o time corintiano, mesmo que este jogue de forma burocrática com o regulamento debaixo do braço. O torcedor brasileiro precisa entender que ganhar ou perder faz parte de qualquer disputa esportiva e que a arte é uma das formas de fugirmos da mediocridade, de recusar a homogeneização cultural, e até mesmo de exaltar a nossa cultura sem ser radical ou ultranacionalista. O futebol brasileiro parece ter medo de ser vencedor precisa urgentemente se libertar desse modelo tático europeu e encontrar definitivamente a sua identidade dentro de campo. Sim, podemos perder! Mas, é possível perder de cabeça erguida, administrar as derrotas é estar preparado para futuras vitórias, e assim, valorizar as prováveis conquistas.

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