quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Santos x Barcelona



A grande final do Mundial Interclubes entre Santos e Barcelona foi o confronto mais esperado do ano por quem gosta de futebol. Lionel Messi e Neymar mediram forças e pudemos comprovar a maturidade, o jogo eficiente, o toque de bola do time catalão. O time do Santos foi anulado em campo, totalmente envolvido pelo futebol insinuante do Barcelona. A qualidade dos artistas é inquestionável, o espetáculo dentro do campo era garantido e quem pagou pelos ingressos certamente não ficou arrependido, pois não é sempre que se tem oportunidade de ver uma apresentação desse porte. Se dentro de campo as coisas iam bem, fora de campo, acompanhar a transmissão do jogo pela TV tornou-se uma via crucis.
Os jogos de futebol andam habitados pelos comentaristas do óbvio, pessoas que não têm formação jornalística, ou seja, sem compromisso com a informação. São apenas meros reprodutores e estão naquele lugar apenas pelo fato de falarem bem a língua portuguesa – o que deveria ser um fato corriqueiro, acaba sendo incomum entre jogadores e ex-jogadores e quando aparece alguém fazendo as concordâncias verbo-nominais de maneira correta é rapidamente alçada à condição de comentarista. De uns tempos pra cá, escrever e falar de maneira eloquente virou sinônimo de jornalismo e atualmente todos estão aptos a serem repórteres, analistas, colunistas e comentaristas.
Nas faculdades, a cadeira de Comunicação Social, em especial Jornalismo, se encontra esvaziada. A não obrigatoriedade do diploma, a tecnologia de comunicação, redes sociais etc. são os grandes facilitadores dessa onda. Hoje em dia, temos ex-jogador de futebol que escreve em blog, tem coluna em site esportivo e ainda diz que dá “furo” de reportagem, como se fosse um grande jornalista e merecedor do prêmio Pulitzer. Ex-jogador de vôlei apresenta programa, modelos são apresentadoras, ex-BBB’s são repórteres.
Oposição ferrenha vira situação
O jornalismo é uma cadeira séria, estuda-se quatro anos para entender os processos de comunicação, onde é necessário checar fontes e analisar minuciosamente aquilo que vai ser veiculado e, ainda assim, existem casos onde muita gente tarimbada erra por excesso de confiança e até mesmo soberba. São “falhas" que podem decidir rumos de eleições, condenar pessoas, derrubar governos e assim por diante. A imprensa esportiva brasileira em alguns momentos chega a ser provinciana, a cobertura que é altamente tecnológica, acaba se tornando sofrível, narradores e comentaristas parecem sofrer de um agudo complexo de vira-latas.
É preciso que haja uma pressão maior dos sindicatos, associações e outro setores ligados à imprensa. Além de ser uma reserva de mercado para quem se forma, é um modo de melhorar a qualidade do jornalismo no país. No momento atual, o jornalismo político ganha ares de denuncismo e no jornalismo esportivo, ares provincianos. O tempo que se perde enaltecendo a brilhante vitória do Barcelona é imenso, como se ao longo da história não tivessem existido outras equipes que fizeram melhor ou igual ao clube da Catalunha.
O que deveria ser questionado é a posição mercantilista e colonialista dos clubes europeus, assim como deveria ser questionada a posição do deputado federal Romário de Souza Farias que até ontem era oposição, questionava com veemência a participação do presidente da CBF no COL (Comitê Organizador Local), e agora, com a entrada do ex-jogador Ronaldo Fenômeno, resolveu mudar o tom de suas críticas dizendo que agora a Copa de 2014 tem uma cara. É como se em um passe de mágica todas as declarações, todos os desmandos do todo poderoso chefão da CBF fossem apagados e esquecidos.
As relações no futebol repetem e reproduzem a deterioração das relações na sociedade como um todo. O mundo anda realmente de pernas para o ar a maior prova é o Barcelona jogando como se fosse um time genuinamente brasileiro. Quem era oposição ferrenha à prática espúria da Confederação Brasileira de Futebol vira situação. Só falta agora revista Veja começar a apoiar o governo da presidente Dilma Rousseff.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Censura ou proteção a arte?



No dia 20 de outubro, a MTV realizou a 17ª edição do VMB, ou Vídeo Music Brasil, um dos prêmios musicais mais esperados do ano, um mega espetáculo com sete shows, três palcos e vinte e nove artistas. A novidade, além da transmissão televisiva, foi a transmissão do evento pela internet – em era de convergência, nada mais natural. Este ano, a MTV encolheu os poderes do público. Desde 2007 a emissora tem ficado refém do público adolescente, que comanda as votações pela internet, o que na maioria das vezes acaba tornando as escolhas questionáveis, devido à qualidade das bandas votadas e à invasão em massa dos fã-clubes. Esse é mais um fator natural em tempos de internet. Recorrentemente, observamos na mídia as comparações entre atletas que brilharam no passado e os atletas em atividade hoje.
Um júri de 104 “notáveis” foi escolhido como uma forma de conter o avanço das músicas tocadas no rádio, que muitas vezes estão em destaque graças a uma prática conhecida no meio que tem o nome de “jabaculê” ou “jabá”. É quando o empresário do artista libera um “agrado” para os profissionais das rádios, uma forma de garantir a música do artista como uma das mais tocadas.
O diretor da emissora aprova a idéia e diz que uma votação menos democrática é uma forma de torná-la mais focada. Em tempos que estamos preocupados com a questão da censura, não creio que essa seja a melhor saída para conter o avanço das bandas teens que costumam faturar a maioria dos prêmios ligados à audiência. A MTV tenta resgatar a sua identidade e retornar às origens quando procura uma forma, mesmo que estabanada, de conter a audiência, mas essa é uma linha muito tênue, pois da mesma forma que contém pode acabar desqualificando a opinião daqueles que acompanham a emissora.
A miscigenação musical
Não podemos esquecer que os maiores vendedores de disco do país sempre foram os artistas considerados bregas ou de qualidade questionável. Nos anos 60, o movimento da Bossa Nova foi a renovação apresentada pela música brasileira – uma série de cantores de gabarito inquestionável foram apresentados ao país, mas não podemos esquecer que esse movimento que ganhou o mundo surgiu na elite carioca, mais especificamente na zona sul do Rio de Janeiro. Quando se analisa profundamente o cenário musical, constata-se que os cantores considerados bregas eram os que faziam mais sucesso entre a população. Já imaginou o que os fãs da grande Ângela Maria iriam dizer se fossem proibidos de votar na grande “Sapoti”?
A partir do momento que se instituem prêmios para classe artística, aumenta-se consideravelmente o alcance da indústria cultural e tais prêmios acabam matando a arte em sua essência. O artista, muitas vezes levado pela pressão de gravadoras, editoras ou empresas de comunicação, sente-se compelido a criar uma obra que atenda às expectativas do mercado. Tais critérios deveriam ser melhor analisados e, ao invés de se criarem prêmios, segmentar, fragmentar, categorizar ou separar a arte. A MTV poderia fazer uma grande festa celebrando a mistura de ritmos e a grande miscigenação musical. Viva a pluralidade!

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A televisão é um veículo de natureza controversa


Segunda-feira retrasada (3/10), o programa CQC, da Rede Bandeirantes, foi ao ar sem um de seus apresentadores Rafael Bastos Hocsman, conhecido do grande público como Rafinha Bastos. O apresentador foi afastado do programa por ter feito uma piada de gosto duvidoso sobre a cantora Wanessa, filha de um famoso cantor sertanejo. Esta não é a primeira vez que a qualidade do humor feito pelo apresentador/humorista é posto em xeque. Constantemente seus comentários são alvos de críticas, até mesmo de seus colegas de profissão. Rafinha já chamou a apresentadora de um desses programas matinais de “cadela”, pois a moça tinha certa dificuldade na pronúncia da palavra “octogon” (ringue onde acontecem as lutas de MMA); outra “piada” de grande repercussão foi que mulheres feias deveriam agradecer aos estupradores os serviços prestados, e não denunciá-los às autoridades.
A existência de uma linha tênue entre o humor e o mau gosto se torna nítida quando fatos como esses ocorrem, mas impedir o apresentador de trabalhar acaba soando como um ato radical. O humorista faz parte de uma geração de comediantes adepta do stand up comedy, uma forma de fazer humor importada dos EUA, onde o humorista interage com a platéia, trazendo questões do dia-a-dia e do cotidiano. Sucesso total na internet, seu perfil no Twitter é um dos campeões de audiência, com mais de três milhões de seguidores, tornando-o um dos mais influentes na rede social. Seu êxito é tão grande que a emissora concedeu ao apresentador mais um programa em sua grade. Seu comentário foi tão devastador que seu colega na bancada do CQC, o também apresentador/humorista Marco Luque, fez duras críticas ao companheiro de programa. Luque é amigo do marido de Wanessa, que por sua vez é sócio de um ex-grande jogador de futebol em uma empresa de marketing esportivo, que tem o perfil na mesma rede social, onde o apresentador é o “rei”, patrocinado por uma operadora de celular, empresa essa que é representada pelo humorista, um de seus garotos-propaganda. Alguns artistas mostraram-se solidários à cantora e ao seu marido e indignados com os comentários feitos por Rafinha Bastos.
Em pleno horário nobre
A punição ao apresentador nos remete a uma época nebulosa da história do país, onde a censura determinava aquilo que deveria ser visto ou ouvido pela população – aliás, esse é um tema que está em discussão no Congresso Nacional, a lei de regulamentação da imprensa. Lei essa que se não for analisada com extremo cuidado pode acabar ferindo a liberdade de expressão, que é um direito assegurado pela Constituição que rege o país. O Poder Judiciário existe para que a sociedade se defenda e procure seus direitos, caso se sinta ofendida ou lesada. A televisão costuma ser um veículo de natureza controversa. Da mesma forma que vemos programas fazendo campanha contra a violência nas ruas, contra o bullying ou violência no trânsito, vemos esses mesmos programas exaltando os lutadores de MMA (Mix Martial Art). Nesse momento, a mensagem possui um sentido dúbio. Violência gera violência, mas espancar o seu semelhante no ringue é permitido, a prática se torna saudável e ganha status de esporte. Tem lutador que ostenta um discurso religioso, impregnado de moral, uma espécie de “gladiador do Senhor” que, em nome de Deus, espanca os adversários.
Da mesma forma que a censura ao comercial da modelo de lingerie que resolve as questões do dia-a-dia usando da sensualidade, sob a alegação que o anúncio sugere uma mensagem sexista e machista, embora o mesmo veículo aprove personagens com forte apelo erótico que usam o corpo para ascender socialmente. Tudo isso ocorre em pleno horário nobre, como se tais atitudes fossem corriqueiras. E as músicas de duplo sentido, que têm uma conotação estritamente sexual, será que essas também serão proibidas ou suspensas?
Amanhã quem iremos calar?
Punições e suspensões radicais, ao invés de educarem, acabam aumentando a importância do fato. Nessas horas, a emenda costuma sair pior que o soneto. A melhor saída para quem se sente ofendido é trocar de canal, mandar carta para a emissora, ir buscar os direitos dentro da lei, mas isso só será possível a partir do momento em que a população for educada para reivindicar seus direitos. Ninguém é obrigado a consumir a programação da televisão. Uma das funções do veículo televisão é de narcotizar, entreter e controlar a população. Em tempos de internet, a corrida é pelo furo jornalístico, informar está em segundo plano. A população é inundada de informações para que o foco sobre o que é realmente importante seja minimizado. As grandes empresas de comunicação buscam quantidade, e não qualidade em suas informações.
Poetas e humoristas têm como função social denunciar falhas no sistema através de sua arte. É inconcebível qualquer tipo de censura, suspensão ou mordaça. Piadas ou comentários de mau-gosto devem ser ignorados ou criticados, e não silenciados. Hoje, calamos os humoristas e amanhã quem iremos calar?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Criança desesperança


Mais uma edição do programa Criança Esperança foi apresentada pela Rede Globo. A dinâmica do programa é bem simples: as “estrelas” da emissora, em conjunto com os cantores mais populares do país, se reúnem em um show de quase duas horas enquanto o público faz doações através de ligações telefônicas ou através do site. Em 26 anos, quatro milhões de crianças já foram ajudadas, dados estes divulgados pela própria emissora. O programa é apresentado pelo comediante Renato Aragão, embaixador na UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância), que ajuda crianças pelo mundo afora. Vale lembrar que a sede da ONU é nos EUA, grande potência mundial que, historicamente, gosta de invadir países em nome da liberdade e da democracia.
Nos últimos anos, vimos e ouvimos proliferar pela mídia um novo termo, uma prática recente das grandes empresas que, após anos tratando o consumidor como lixo, resolveu dar satisfações aos seus clientes. Essa nova prática, que deveria ser uma obrigação, que só começou a acontecer depois que os consumidores começaram a ter um maior conhecimento de seus direitos e ganhou o nome de responsabilidade social. A partir desse momento, o que mais se vê nos intervalos comerciais dos programas de televisão são empresas mostrando que têm “responsabilidade social”.
A Rede Globo exercita a sua responsabilidade social de uma forma diferente. Reserva uma data dentro da sua programação, no horário que foi convencionado ser chamado de horário “nobre”, portanto mais valorizado, e ainda conta com a solidariedade de seus espectadores. O espetáculo tem um padrão de qualidade que é reconhecido por todos que entendem de show, mas ser solidário com o dinheiro alheio é um acinte. Os projetos ajudados são sempre aqueles que rendem a Globo uma maior audiência, como se somente o morro do Cantagalo no Rio de Janeiro precisasse de ajuda.
Tentativa de ludibriar a população
Será que o dinheiro que a Globo ganha durante os intervalos do programa, é revertido para UNICEF? Será que não é responsabilidade social criar uma emissora durante a ditadura militar? Narcotizar e idiotizar a população com novelas não é responsabilidade social? A eleição do ex-presidente e hoje senador Fernando Collor de Mello não foi um ato de responsabilidade social?
Esse termo, tão em moda, só serve para mostrar que a atitude que deveria ser considerada uma obrigação, um ato de respeito ao consumidor, ganha status de grande favor, como se as multinacionais estivessem ajudando a população espontaneamente. Empresas que sempre exploraram os recursos do país, se valendo de sua debilidade política, social e econômica.
Ter responsabilidade social com o dinheiro do trabalhador é uma afronta, é fazer pilhéria com a população, depois de quase 50 anos dominando, alienando pessoas e vendendo sonhos. Vir a público para mostrar os princípios editoriais, defender a liberdade de expressão, como se fossem os heróis da nação, chega a ser de mau gosto, além de mais uma tentativa de ludibriar a população do país.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A despedida da Seleção


Foi triste ver o adeus da seleção brasileira nas quartas de final da Copa América. Em sua melhor apresentação durante a competição, o Brasil foi eliminado nos pênaltis pela seleção do Paraguai. Não quero me ater a questões técnicas ou táticas – isso é melhor deixarmos aos “professores”, que há muito deixaram de ser técnicos e agora ostentam o cargo de manager ou “gerente de futebol”.
Está mais do que claro que o problema da seleção não está dentro de campo. Vitórias e derrotas são inerentes a qualquer esporte. A imprensa esportiva se comporta de forma amadora e esse é um dos reflexos do monopólio e da centralização da informação. Os jogadores parecem ser obrigados a falar com repórteres ávidos por uma entrevista exclusiva; essa imprensa esportiva que passa a mão na cabeça quando o comportamento de algum deles foge ao padrão dizendo que são apenas garotos; a mão que afaga e exalta para logo em seguida cobrar com veemência uma postura adulta diante da derrota, concedendo entrevistas exclusivas à beira do campo mesmo que a hora não seja a mais propícia.
Michel Foucault, em sua obra Microfísica do Poder, descreve como os mecanismos do poder são exercidos fora, abaixo e ao lado do aparelho do Estado. Assim como nos mostra a relação de poder e saber nas sociedades modernas com o objetivo de produzir “verdades” cujo interesse essencial é a dominação do homem através de práticas políticas e econômicas da sociedade capitalista. As relações vividas no macrocosmo serão reproduzidas no microcosmo, o problema é estrutural e começa na cúpula da CBF, que volta e meia aparece no noticiário policial e não mais somente no noticiário esportivo, com seu presidente acusado de corrupção, dando entrevistas descabidas, demonstrando um poder incomensurável e se colocando acima do bem ou do mal – compra de terrenos em disputa judicial e até mesmo venda de votos para países que desejam sedia uma Copa do Mundo.

A gente não quer só comida
A seleção já não é mais o lugar para os melhores, as “feras” já não dominam mais o cenário que agora é usado apenas como balcão de negócios para dirigentes e clubes que “jogam” de acordo com a determinação do poderoso chefão, que ao mesmo tempo é escravo dos seus confederados, pois sem os seus votos o monopólio não se sustenta. Esse é o reflexo do mundo globalizado onde as relações são permeadas pelo capital, as regras ditadas pela indústria cultural e o importante é a audiência gerada para quem detém a exclusividade da transmissão de jogos e campeonatos – e o lucro exorbitante obtido pela CBF.
Estamos constatando o fim do futebol arte. Há mais ou menos vinte anos observamos, deitados em berço esplêndido, o nascimento do futebol de negócio, do futebol do marketing, do futebol racional, dos jogadores celebridades, mas esses são o elo mais fraco da corrente. Está na hora de mudar, a renovação não dever ser apenas dentro das quatro linhas, devemos renovar a estrutura inteira, Qual é a responsabilidade social da CBF? Para onde vai toda a grana arrecadada ao longo desses anos? Por que os clubes definham a cada dia? Quem regulamenta a saída de jovens jogadores do país? Como sediar uma Copa do Mundo e Olimpíadas se a educação, a saúde está à míngua? A opinião pública, as autoridades no assunto deveriam se manifestar de forma séria a respeito dessas questões que ficam no ar sem respostas, assim como tantas outras. A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e, acima de tudo, arte.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Uma entrevista com pose de rei


O poderoso chefão do futebol brasileiro, excelentíssimo senhor presidente Ricardo Teixeira, deu uma entrevista polêmica à revista Piauí. Como se diz popularmente rasgou o verbo, disse uma série de impropérios, porém não disse nada que uma pessoa com o mínimo de discernimento político e futebolístico já não tenha questionado. Assuntos como: a relação com o maior conglomerado de comunicação do país, as denúncias de corrupção, o acúmulo das funções de presidente do comitê organizador da Copa do Mundo e da CBF e até sobre a Copa do Mundo de 2014.
Teixeira posou de rei, disse que manda e desmanda no futebol. Frases como: “Meu amor, já falaram tudo de mim: que eu trouxe contrabando em avião da seleção, a CPI da Nike e a do futebol, que tem sacanagem na Copa de 2014. É tudo da mesma patota, UOL, FolhaLanceESPN, que fica repetindo as mesmas merdas.” “Caguei montão [para as denúncias da imprensa]. O neguinho do Harlem olha para o carrão do branco e fala: `Quero igual. ´ O negro não quer que o branco se foda e perca o carro. Mas no Brasil não é assim. É essa coisa de quinta categoria.” “Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito com a Globo.” “Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional.”.
Tais declarações caíram feito uma bomba na mídia esportiva a Rede Record dedicou mais de vinte minutos da sua revista eletrônica semanal, esmiuçando a entrevista e aproveitando para acirrar a sua guerra pela audiência contra a Rede Globo.
“Galinhas mortas”
Nem se pode dizer que a máscara de Ricardo Teixeira caiu, pois não é novidade para ninguém o que está sendo questionado e nem as tais declarações, assim como não é estranho que jornalistas tão críticos como Renato Maurício Prado e Fernando Calazans, não digam nada sobre o assunto em suas colunas no jornal impresso. Afinal de contas a regra é clara: “Manda quem pode e obedece quem tem juízo.” Como costumam dizer os técnicos com seu mais novo motivo para explicar as derrotas para os times de menor expressão, “não existem mais bobos no futebol”. Peço licença aos “professores” para dizer o mesmo, não queiram nos fazer de “bobos”, ninguém acredita que a CBF tenha se enganado ao adquirir um terreno por 26 milhões de Reais na Barra da Tijuca, que está em disputa judicial pela posse com uma construtora paulista, que os bens adquiridos e a vida portentosa correspondam ao salário por ele recebido, assim como ninguém acredita no enriquecimento instantâneo de políticos, algo que já acontece há décadas no país, mas que retoma as principais manchetes devido aos últimos acontecimentos.
A Rede Record deveria deixar de lado o “denuncismo”. Essa briguinha particular com a Rede Globo não leva nada. A função do jornalismo não é a de caçar as bruxas ou eleger vilões. É necessário aprofundar as questões, jogar luz no assunto mobilizando a opinião pública e, assim, produzir massa crítica para que se fundamente questionamento. É estranho ver o Paulo Henrique Amorim “cair de pau” no Globo. Será que no período em que esteve do outro lado ele não sabia a dinâmica e do funcionamento de sua antiga casa? Todos sabem que o ideal de ego da Rede Record é se tornar a nova Vênus Platinada da comunicação. Não existe diferença entre as duas programações, portanto fica parecendo choro de perdedor, de quem quer se apresentar como uma vítima preterida pelo sistema.
Até o grande Romário, que foi artilheiro e que nunca foi ingênuo – esteve em Zurique naquele trem da alegria que foi “representar” o Brasil dentro da sede da Fifa, no dia da escolha da sede da Copa 2014, e agora deputado federal – disse que se encontra estupefato, pois percebeu que essa Copa do Mundo não será a melhor e nem a maior de todos os tempos, como ele havia dito anteriormente. Será que o “Peixe” realmente acreditou nessa possibilidade?
Políticos, grandes conglomerados de comunicação e dirigentes de futebol, por favor, não nos façam de “galinhas mortas.”.


terça-feira, 7 de junho de 2011

O circo pegou fogo




Há muito tempo não se via um Grande Prêmio de Mônaco tão emocionante. O Principado de Mônaco é dos 25 microestados que existem no mundo, sob os auspícios da monarquia, e a cidade é comandada pelos Grimaldi há mais de sete séculos. A fama de paraíso fiscal faz da cidade de Mônaco um refúgio para os milionários do planeta. Tem no turismo sua principal fonte de renda, suas ruas são usadas para locações de filmes, assim como o cassino de Montecarlo é um dos poucos e últimos circuitos de rua no circo da Fórmula-1.
A mídia esportiva especializada em corridas automobilísticas costuma torcer o nariz para o Grande Prêmio de Mônaco, considerado por muitos uma “procissão”. No entanto, a corrida tediosa de outros anos ficou para trás, ultrapassagens e trocas de posição garantiram a qualidade do espetáculo. A emoção não esteve presente somente dentro do autódromo. Após o término da corrida, o inglês Lewis Hamilton reclamou das punições impostas pelos comissários de prova. A maneira de Hamilton pilotar o seu carro é considerada agressiva por muitos que acompanham os Grandes Prêmios. Seu estilo arrojado e sua técnica apurada já deram ao piloto o título de campeão mundial em 2008, porém nos últimos anos o inglês vem amargando a escassez de títulos.
Na entrevista coletiva concedida após a corrida, Hamilton demonstrou toda sua insatisfação com a direção da prova e disparou, dizendo que se sentia perseguido pelos comissários das provas, que geralmente costumam puni-lo de forma recorrente durante as corridas. Rapidamente, a mídia brasileira se arvorou e tratou de por “panos quentes”, alegando que Hamilton estava “chorando” por não ter tido muita sorte nos treinos classificatórios e durante corrida.
Racismo é tema recorrente
Na época em que Michael Schumacher era o destaque no circo da Fórmula-1, seu estilo de pilotar era tão agressivo quanto o de Hamilton, em alguns momentos chegando a ser desleal com os adversários, e nunca fora punido com tanta frequência. E o que dizer de Alain Prost, que foi campeão do mundo após forçar um acidente e tirar Ayrton Senna de uma prova em Suzuka, no Japão?
Sempre que o tema racismo é abordado, uma parte da imprensa trata a questão com certo descaso, como se fosse impossível a possibilidade de tal fato, como se a Fórmula-1 fosse um esporte plural e de fácil acesso e prática pelas camadas mais populares. Em determinados casos, fica parecendo que o racismo não existe e que os negros que sofrem com a discriminação estão tendo alucinações de cunho persecutório.
Se Hamilton está de chororô, como foi dito por algumas mídias que se julgam especializadas, não podemos dizer, mas cabe à imprensa averiguar os fatos e tocar nas feridas que incomodam a sociedade. Racismo é um tema recorrente, que sempre merece destaque, e não creio que esteja distante da realidade em Mônaco – e muito menos no Rio de Janeiro.




segunda-feira, 9 de maio de 2011

Liberdade, igualdade e fraternidade




O técnico da Seleção Francesa de futebol Laurent Blanc junto com alguns dirigentes da Federação Francesa de Futebol foram acusados de programar um sistema de cotas raciais para as categorias de base da Seleção Francesa, onde somente 30% dos jogadores poderiam ser negros ou árabes. 
O esquema seria encabeçado pelo diretor técnico da Federação Francesa de Futebol François Blanquart, Laurent Blanc e Eric Mombaert - técnico da seleção de base. Os três teriam se reunido para discutir a entrada de jovens, procedentes da África com dupla nacionalidade, nos centros de formação franceses que posteriormente abandonam esses centros de formação, para defender a seleção de seus países de origem. Esse movimento contra os jogadores estrangeiros não é recente. A FIFA já vem estudando formas de combater e limitar, aquilo que é considerado pela entidade como, invasão estrangeira dentro das ligas nacionais europeias, mas não olha para o dos clubes que aliciam os pais e os jovens jogadores considerados potenciais promessas.

Não é de hoje que existe repúdio aos imigrantes em todo continente europeu no passado sistemas de governo como Fascismo, Nazismo, as teorias racialistas, as vaias e as ofensas contra jogadores negros. Demonstram que a intolerância é praticada e apoiada por uma parcela significativa da população europeia. A própria França foi palco de uma revolta iniciada por jovens franco-argelinos que brigavam por melhores condições de vida nos guetos franceses, lutando contra a discriminação racial e reivindicando o reconhecimento aos direitos que são assegurados aos cidadãos franceses pelo governo. 

Essa história de cotas na Seleção é apenas mais uma prática neocolonialista, a tão propalada globalização não nos trouxe união de raças, igualdade e muito menos aproximação entre pessoas como muitos costumam dizer, pelo contrário, apenas acentuou as desigualdades, levantou as fronteiras e expôs antigas feridas abertas no Século XV. As cotas raciais da seleção francesa estão sendo investigadas, pelas autoridades no assunto, alguns jogadores campeões do Mundo na Copa de 98 já saíram em defesa do Técnico dizendo que ele nunca apresentou qualquer tipo de comportamento racista. As cotas raciais na Seleção Francesa estão sendo investigadas, pelas autoridades no assunto, alguns jogadores campeões do Mundo na Copa de 98 já saíram em defesa do Técnico Blanc, dizendo que ele nunca apresentou qualquer tipo de comportamento racista. 

Os dirigentes da Federação Francesa de Futebol deveriam pensar muito antes de cogitar tal possibilidade, pois o maior jogador francês de todos os tempos é neto de imigrantes Argelinos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A eterna síndrome de “vira-lata”





Real Madrid e Barcelona fizeram a primeira partida das semifinais na Liga dos Campeões da Europa, esse é um jogo cercado de muita rivalidade, não se resume em uma simples partida de futebol, Real X Barça se tornou um confronto político e histórico, uma luta entre espanhóis e catalães.
Os olhos do mundo estavam voltados para o estádio Santiago Bernabeu, casa da equipe merengue, o que há de melhor no futebol estava dentro das quatro linhas daquele estádio. O destaque do jogo foi o argentinho Lionel Messi, com dois gols na partida, a atuação de Messi vinha sendo discreta, mas a expulsão do zagueiro Pepe por falta dura em Daniel Alves facilitou a vida do Clube Catalão.
A vitória do Barcelona e os dois gols do craque argentino consolidam posição do clube, como um dos melhores times de todos os tempos confere ao jogador o status de gênio do futebol mundial. Dentro da Argentina os seus compatriotas olham Messi com desconfiança, o fato de não ter crescido como jogador dentro do país contribui para que isso aconteça dessa forma, o atacante que foi revelado pelo Barcelona clube que defende desde os treze anos de idade. Outro fator que contribui para que o jogador não seja uma unanimidade dentro de seu país de origem, são as fracas atuações pela Seleção nacional o que dificulta a identificação do ídolo com a sua torcida.
Aqui no Brasil é diferente o Argentino é considerado o melhor jogador da atualidade pela mídia esportiva, prêmio foi confirmado pela FIFA em 2009 e 2010, Messi foi tão ovacionado pela imprensa esportiva brasileira, que por alguns instantes era possível esquecer que somos considerados o país do futebol, celeiros de craques que conquistaram o mundo assim como Messi e o seu compatriota Maradona.
Os craques de hoje em dia tem um grande auxílio da mídia, a imprensa esportiva sempre procura buscar comparações entre os craques do passado com os da atualidade, esses comparativos que não acrescentam em nada, e são sempre ganhos pelos craques atuais, pois a documentação dos seus feitos é realizada de forma muito mais eficaz, pois hoje os recursos de edição e armazenamento de imagens são amplamente maiores.
 Toda vez que a Seleção Brasileira enfrenta um adversário pelo qual já tenha sido eliminada, a derrota é sempre lembrada como um golpe fatal em nossos egos. Mesmo que esse adversário já tenha sido derrotado inúmeras vezes, nos servem como exemplo as copas de 50, 82 e 98. Sempre que tais confrontos acontecem, a sensação é de retornar a velha da síndrome de “vira – latas” já dita por Nelson Rodrigues. Será que derrotas não são inerentes ao esporte?
A auto-estima do brasileiro nessas horas encontra-se no pé, até parece que não temos referências vitoriosas. Se Messi é considerado e reconhecido como rei do gol ou do drible, imaginem como seriam reconhecidos Pelé e Garrincha se jogassem nos dias de hoje. A impressão que passa é que temos vergonha de celebrar a vitória e a existência de um costume de cultivar a derrota, aqui não se comemora o segundo lugar, pois quem fica em segundo é considerado o primeiro a ser derrotado, como se fosse possível ganhar sempre. Nos colocamos em um pedestal que na verdade é inexistente. Não suportamos perder e não conseguimos aprender a ver ganhos através das perdas, ficamos sempre presos nessa derrotas, nos comportando como os injustiçados pelo mundo.
Reconhecer o valor de pessoas como Maria Ester Bueno, João de Pulo, Ademar Ferreira da Silva, Zequinha Barbosa ou Joaquim Cruz. Pessoas que fazem parte de um passado recente e esportivo, mas que certamente não habitam as lembranças dos mais jovens, pois não tiveram suas imagens amplamente divulgadas e seus nomes não circulam mais na mídia e nem nas redes sociais. Isso para não citar os jogadores de futebol que marcaram história ao longo dos anos, essa sempre foi uma tarefa muito complicada para o brasileiro que prefere importar referências ao invés de buscá-las dentro de sua própria casa.
Para que isso seja revertido é necessário entender e se localizar dentro da história, celebrar as conquistas das medalhas de prata e de bronze que tem tanto valor quanto a de ouro, entender as lições existentes nas perdas, aquelas que são maquiadas pelas vitórias. Quem sabe dessa forma nos livraremos desse estigma provocado por essa síndrome de vira – latas que volta e meia teima em nos perseguir.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A CBF está desinformada




Foi julgada ontem na 1ª Vara Cível da Barra da Tijuca uma ação de conciliação a respeito de um terreno de 90.000 metros quadrados no bairro da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, até agora nada de novo, pois quem mora no Município sabe do imbróglio existente em relação à origem desses terrenos nessa área nobre da cidade, por tanto bastante valorizada. Obter um terreno vazio ou imóvel no local é muito complicado quem possui não se desfaz, pois o bairro está em expansão o que garante maiores valores nas transações de compra e venda, e quem não possui fica a espreita de uma oportunidade, afinal de contas ter um terreno ou um imóvel na Barra da Tijuca é garantia de um bom negócio em termos financeiros, além, de um status social respeitável.
A Confederação Brasileira de Futebol aguarda uma decisão judicial, pois, uma construtora paulista comprou uma parte do terreno que seria destinado à construção de um Centro de Treinamento para Seleção Brasileira de alguns posseiros estabelecidos no local, desde a década de 90, e o proprietário do local que vendeu o terreno a CBF pela bagatela de Vinte e seis milhões de Reais. Estão em litígio para saber quem tem direito a posse do terreno. A briga por Terras no Brasil já vem de longa data, nunca se pensou em uma política fundiária no país. A tão propalada Reforma Agrária causa pruridos nos políticos, o tema só aparece na pauta em época de campanha presidencial, a Lei de Terras foi à solução encontrada para se regular a estrutura fundiária do país, por tanto é no mínimo fundamental que se olhe para essa questão com mais atenção, já que a primeira Lei de Terras do Brasil data de 1850.
O terreno comprado teve a sua pedra fundamental lançada em Setembro de 2009, em uma cerimônia em que esteve presentes o - Ricardo Teixeira - Presidente da CBF, Joseph Blatter - Presidente da FIFA o Ministro do esporte, Orlando Silva, governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. A previsão inicial era de que as obras de construção de um Centro de Treinamentos para estariam prontas em 2012, às vésperas da Copa das Confederações que é o evento teste, para a Copa do Mundo de 2014. 
Será que a CBF cometeu o erro primário de não analisar os documentos referentes ao local antes de realizar o processo de compra, ou acreditou, que o fato de ser a toda poderosa CBF fosse um facilitador para a regularização do processo o típico “Olha só, você sabe com quem está falado?”- O moderno Centro de Treinamentos seria usado, no lugar da antiga Granja Comary, como concentração e casa da Seleção durante a Copa de 2014.
Será que não existe outro terreno dentro do Município do Rio de Janeiro, ou dentro do Estado para que a obra seja realizada? Por que essa construção tem de ser em um bairro nobre? Imaginem um Centro de Treinamentos desse porte construído em alguma Zona Periférica da Cidade, ou na Baixada Fluminense, ou em qualquer outro bairro. Traria a possibilidade de realização de trabalhos como os de inclusão social através do Futebol, seria um fator determinante para melhoria da infraestrutura e na autoestima dos moradores locais, certamente as cenas que vimos no Complexo do Alemão, e na Escola Municipal Tarso da Silveira em Realengo poderiam até ser evitadas com a realização dessas atividades. O Governador e o Prefeito poderiam se movimentar e ao menos trazer uma sugestão para que o Rio de Janeiro, não perca mais essa disputa para outro estado. Já que não irá sediar a abertura do mundial somente a final, uma demonstração de fraqueza política, pois  o Estado está jogado às moscas, sendo governado à base de medidas paliativas. O Brasil não é somente o Rio de Janeiro, assim como o Rio de Janeiro, não é somente a Zona Sul muito menos a Barra da Tijuca.





segunda-feira, 4 de abril de 2011

Racismo até quando?


Observando o noticiário esportivo durante a semana venho deparando com notícias sobre racismo no futebol. Não existe nenhuma novidade no ocorrido, pois é cada vez maior o número de manifestações racistas dentro dos estádios europeus. O que espanta é a inércia dos órgãos reguladores do esporte – Fifa e Uefa – e das autoridades europeias, que parecem coadunar com a postura adotada pelos torcedores dos clubes europeus.
O jogador Roberto Carlos saiu do Brasil dizendo que não se sentia seguro e que sua família estava sendo ameaçada. O mesmo Roberto Carlos é o recordista de manifestações racistas na Europa desde a época em que jogava na Espanha. O último fato aconteceu esta semana, quando um torcedor russo lhe ofereceu uma banana descascada. Será que a troca feita pelo lateral teve realmente motivações emocionais ou, mais uma vez, o dinheiro falou mais alto, a ponto de fazê-lo superar essa forma de violência que, diga-se de passagem, é tão grave quanto a ameaça de torcedores à sua família?
A última vítima desse ato execrável foi o jogador Neymar que, após a vitória da seleção brasileira sobre a seleção da Escócia, teve uma casca de banana atirada em sua direção. Neste mundo de hoje, que se julga globalizado e sem fronteiras, esse tipo de atitude desagradável é extremamente desnecessária. Afinal de contas, vivemos o sob o signo do pluralismo e não cabem mais manifestações de repúdio a homossexuais, a negros, índios, gordos etc.
O povo europeu, que costuma primar pela educação e pelos bons costumes, já que o continente sempre foi considerado o berço da civilização ocidental, deveria ficar atento e rechaçar essas práticas arcaicas do século 19 e da metade do século 20. O mundo já não comporta mais atitudes como a que ocorreu com o corredor afro-americano Jesse Owens, nos Jogos Olímpicos de 1936, que além de ser hostilizado por Hitler foi também menosprezado dentro de seu país de origem.
Um mundo onde caibam todos os mundos
Semana passada, um menino australiano foi obrigado a se defender, pois sofria com as agressões verbais e físicas impostas pelos colegas de escola; em São Paulo, um jovem foi agredido por um skinhead com uma lâmpada pelo simples fato de ser homossexual; e, para não fugir muito do âmbito esportivo, o jogador Marcelo, atleta do Real Madri, foi alvo de racismo dentro do campeonato espanhol. Isso tudo ocorreu sem que houvesse a mínima intervenção das autoridades locais. Será que o mundo ainda não compreendeu que esse tipo de comportamento só ajuda na formação de ditadores como Muamar Kadafi, Hosni Mubarak ou daqueles que vestem a capa da democracia e da moral e fingem lutar pela "liberdade", como, por exemplo, George Walker Bush? Isso sem citar os tiranos clássicos, como Hitler, Mussolini, Salazar e os generais do período da ditadura militar no Brasil.
O que é necessário para que se comece a construir um mundo onde caibam realmente todos os mundos? Enquanto agirmos dessa forma, enquanto não respeitarmos as diferenças, seremos reféns de nós mesmos, viveremos trancafiados dentro de nossas casas com medo de nossos pares. Os europeus, e mais tarde os norte-americanos, saquearam, pilharam, colonizaram, dizimaram povos e culturas graças ao seu imperialismo pungente e agora se sentem no direito de discriminar e hostilizar imigrantes latinos, africanos. Até quando iremos assistir a cenas deploráveis como essas?

terça-feira, 29 de março de 2011

O imperador da solidão


O noticiário esportivo anda às voltas com o retorno jogador Adriano. A imprensa adora as algazarras protagonizadas por uma das personalidades mais controversas do futebol – aliás, o velho e violento esporte bretão está repleto destas figuras.
Podemos começar por Heleno de Freitas, craque da década de 1930, apelidado de "Gilda" por seus amigos do Clube dos Cafajestes e pela torcida do Fluminense. O apelido era uma referência ao filme de mesmo nome estrelado pela atriz norte-americana Rita Hayworth. Dono de um temperamento explosivo, Heleno era um craque de bola, mas a genialidade para realizar grandes jogadas dentro do campo era a mesma para arranjar confusões fora dele.
Se fizermos uma linha do tempo e nos ampararmos na história, veremos craques como Garrincha, "o anjo das pernas tortas", Edmundo, "o animal", Paulo César "Caju", Bruno ex-goleiro do Flamengo, verdadeiros craques da bola, porém sempre envolvidos em confusões, polêmicas e, no caso deste último, a acusação de envolvimento no desaparecimento da mãe de um de seus filhos, concebido fora do casamento. O último caso de insubordinação noticiado foi do promissor craque do Santos Neymar, mas nesse caso os dirigentes correram para conter aquilo que poderia se tornar um problema indigesto.
As peripécias do Adriano são todas conhecidas. Principalmente após ter alcançado a fama, sua carreira é marcada por atrasos em treinos após noitadas, fotos com objetos que parecem armas de verdade, moto em nome de traficantes procurados financiada com seu dinheiro, briga com a ex-noiva após um baile na comunidade, carteira de motorista apreendida em blitz policial, flagras ingerindo bebida alcoólica durante sua recuperação após cirurgia no ombro – enfim, uma vida repleta de "aventuras". Adriano nunca foi um craque com a bola nos pés. Alguns costumavam chamá-lo de centro-avante "trombador". Nessa época, iniciara sua carreira no Flamengo, alcançou destaque no clube carioca e, logo em seguida, transferiu-se para a Europa. Depois de algumas temporadas na Itália, Adriano ficou fisicamente forte, seu chute de "canhota" virou uma "bomba" e logo ganharia fama, dinheiro, mulheres e o apelido que ostenta até hoje – "Imperador".
Histórias polêmicas, problemas e privilégios
O primeiro Adriano da história governou Roma durante o período de 117 a 138 d.C. e pertenceu à dinastia dos Antoninos, sendo considerado um dos "cinco bons imperadores". Filho de colonos romanos moradores do sul da Hispânia e primo do imperador Trajano, foi nomeado sucessor deste por uma série de dignidades públicas que o fizeram aparecer como herdeiro do trono do Império Romano. Considerado o Imperador Ambulante, Adriano construía cidades por onde passava, erguia monumentos com motivações políticas, perto de Roma fez a grande Villa que até hoje leva seu nome, Villa Adriana, era um amante da arte e um apaixonado por arquitetura. O imperador Adriano parece ter passado 12 anos do seu reinado fora de Roma.
Assim como homônimo, o imperador dos campos passou grande parte da sua vida fora do seu reinado na comunidade Vila Cruzeiro, Rio de Janeiro. Considerado bom parceiro pelos amigos de trabalho, as festas eram sempre organizadas pelo jogador. Com o falecimento do pai, em 2006, a sua carreira entra em colapso. No mesmo ano, Adriano e todo grupo que fez parte da delegação brasileira foram duramente criticados por toda mídia esportiva, após o fraco desempenho na Copa do Mundo daquele ano. Em seguida, o artilheiro retorna à Internazionale de Milão e, junto com ele, problemas com o peso, álcool e "noitadas" começam a ecoar na mídia esportiva italiana. Enviado ao Brasil, seu trabalho de recuperação é realizado no São Paulo Futebol Clube e, após um mês de tratamento, o clube paulista o contrata por empréstimo por um período de seis meses.
Aparentemente recuperado, Adriano retorna ao clube italiano. Em abril de 2009, o atleta abandona o treino na Itália e se refugia no Brasil. O sumiço causa espanto, chega-se a cogitar a morte do jogador, que resolveu passar uma temporada na casa de familiares no dia 9 de abril de 2009. Uma entrevista coletiva é marcada, o jogador anuncia seu desejo de largar o futebol – a alegria de entrar em campo havia se perdido. Muitos elogiaram a coragem do jogador, pois é sempre muito complicado abandonar os gramados. Era consenso que o "Imperador" ainda tinha muito a oferecer aos torcedores. O que estava acontecendo? Três semanas depois, Adriano e o clube italiano chegam a um acordo, o seu contrato é rescindindo, fato que faz com que o jogador tenha o tempo necessário para recuperar a sua forma física e, acima de tudo, a sua saúde mental. Mas, como uma fênix, o "imperador" ressurge das cinzas e assina contrato com Clube de Regatas do Flamengo.
Naquele ano, Adriano seria campeão brasileiro e um dos artilheiros do Campeonato Brasileiro, mas como não poderia deixar de ser, sua passagem pelo clube rubro-negro é carregada de histórias polêmicas, antigos problemas batem à porta do clube e do atleta e os privilégios concedidos espocam como uma bomba na imprensa esportiva.
Referência para sua comunidade
Alguns dizem que benefício de "estrela" é ter um salário maior que o dos outros companheiros de clube; outros são a favor, pois craque é quem faz a diferença. Só que Adriano já não vinha mais fazendo a tal diferença e nem era considerado craque. Com isso, uma transferência novamente para Itália parecia a solução dos problemas acumulados por uma imagem desgastada. Era frequente a sua aparição na mídia, não só no diário esportivo, mas agora também nas páginas policiais. Assim, a ida para capital italiana se transformara em ótima oportunidade para consolidar a carreira e recuperar a credibilidade diante dos torcedores do Velho Continente. Porém, seu desempenho é pífio. A saudade dos familiares, o relacionamento ruim com o técnico, as contusões e problemas fora do campo se tornam fatores determinantes para a rescisão do contrato entre clube e o jogador. Mais uma vez, o "Imperador" está livre para retornar ao seu reino, nos braços da família, dos amigos e, claro, das noites cariocas.
Adriano simboliza uma geração de homens da pós-modernidade que ainda não conseguem entrar em contato com suas limitações e fraquezas, pois tudo é camuflado pelo grande acúmulo de capital, pela fama repentina, pelos carros importados e pelas capas de revistas masculinas. O "Imperador" não se deu conta da solidão em que se encontra e ainda não sabe como se relacionar com esse vazio interno que machuca e corrói a alma. Assim como ele, existe uma geração que está em busca do pertencimento, que para ele ora está na Itália, ora está na Vila Cruzeiro, ora em lugar nenhum. Em todas essas histórias, o que existe é um pedido de socorro. O atleta denuncia algo que é comum a todos nós, um traço que nos constitui enquanto espécie humana. Não fomos preparados para suportar a solidão moral, uma condição que nos ofende, nos magoa e nos incomoda – essa é uma ferida narcísica que nunca irá cicatrizar.
A torcida é para que o atleta entenda seu papel, encontre o seu lugar, alcance a paz interior e, dessa forma, deixe de fazer o jogo do sistema e assim se torne uma referência para sua comunidade, para garotos que se espelham nele como grande jogador de futebol e que um dia sonham obter os títulos por ele conquistados e, quem sabe, assim se tornarem os "imperadores" de suas próprias vidas.