A grande final do Mundial Interclubes entre Santos e Barcelona foi o confronto mais esperado do ano por quem gosta de futebol. Lionel Messi e Neymar mediram forças e pudemos comprovar a maturidade, o jogo eficiente, o toque de bola do time catalão. O time do Santos foi anulado em campo, totalmente envolvido pelo futebol insinuante do Barcelona. A qualidade dos artistas é inquestionável, o espetáculo dentro do campo era garantido e quem pagou pelos ingressos certamente não ficou arrependido, pois não é sempre que se tem oportunidade de ver uma apresentação desse porte. Se dentro de campo as coisas iam bem, fora de campo, acompanhar a transmissão do jogo pela TV tornou-se uma via crucis.
Os jogos de futebol andam habitados pelos comentaristas do óbvio, pessoas que não têm formação jornalística, ou seja, sem compromisso com a informação. São apenas meros reprodutores e estão naquele lugar apenas pelo fato de falarem bem a língua portuguesa – o que deveria ser um fato corriqueiro, acaba sendo incomum entre jogadores e ex-jogadores e quando aparece alguém fazendo as concordâncias verbo-nominais de maneira correta é rapidamente alçada à condição de comentarista. De uns tempos pra cá, escrever e falar de maneira eloquente virou sinônimo de jornalismo e atualmente todos estão aptos a serem repórteres, analistas, colunistas e comentaristas.
Nas faculdades, a cadeira de Comunicação Social, em especial Jornalismo, se encontra esvaziada. A não obrigatoriedade do diploma, a tecnologia de comunicação, redes sociais etc. são os grandes facilitadores dessa onda. Hoje em dia, temos ex-jogador de futebol que escreve em blog, tem coluna em site esportivo e ainda diz que dá “furo” de reportagem, como se fosse um grande jornalista e merecedor do prêmio Pulitzer. Ex-jogador de vôlei apresenta programa, modelos são apresentadoras, ex-BBB’s são repórteres.
Oposição ferrenha vira situação
O jornalismo é uma cadeira séria, estuda-se quatro anos para entender os processos de comunicação, onde é necessário checar fontes e analisar minuciosamente aquilo que vai ser veiculado e, ainda assim, existem casos onde muita gente tarimbada erra por excesso de confiança e até mesmo soberba. São “falhas" que podem decidir rumos de eleições, condenar pessoas, derrubar governos e assim por diante. A imprensa esportiva brasileira em alguns momentos chega a ser provinciana, a cobertura que é altamente tecnológica, acaba se tornando sofrível, narradores e comentaristas parecem sofrer de um agudo complexo de vira-latas.
É preciso que haja uma pressão maior dos sindicatos, associações e outro setores ligados à imprensa. Além de ser uma reserva de mercado para quem se forma, é um modo de melhorar a qualidade do jornalismo no país. No momento atual, o jornalismo político ganha ares de denuncismo e no jornalismo esportivo, ares provincianos. O tempo que se perde enaltecendo a brilhante vitória do Barcelona é imenso, como se ao longo da história não tivessem existido outras equipes que fizeram melhor ou igual ao clube da Catalunha.
O que deveria ser questionado é a posição mercantilista e colonialista dos clubes europeus, assim como deveria ser questionada a posição do deputado federal Romário de Souza Farias que até ontem era oposição, questionava com veemência a participação do presidente da CBF no COL (Comitê Organizador Local), e agora, com a entrada do ex-jogador Ronaldo Fenômeno, resolveu mudar o tom de suas críticas dizendo que agora a Copa de 2014 tem uma cara. É como se em um passe de mágica todas as declarações, todos os desmandos do todo poderoso chefão da CBF fossem apagados e esquecidos.
As relações no futebol repetem e reproduzem a deterioração das relações na sociedade como um todo. O mundo anda realmente de pernas para o ar a maior prova é o Barcelona jogando como se fosse um time genuinamente brasileiro. Quem era oposição ferrenha à prática espúria da Confederação Brasileira de Futebol vira situação. Só falta agora revista Veja começar a apoiar o governo da presidente Dilma Rousseff.