Há muito tempo não se via um Grande Prêmio de Mônaco tão emocionante. O Principado de Mônaco é dos 25 microestados que existem no mundo, sob os auspícios da monarquia, e a cidade é comandada pelos Grimaldi há mais de sete séculos. A fama de paraíso fiscal faz da cidade de Mônaco um refúgio para os milionários do planeta. Tem no turismo sua principal fonte de renda, suas ruas são usadas para locações de filmes, assim como o cassino de Montecarlo é um dos poucos e últimos circuitos de rua no circo da Fórmula-1.
A mídia esportiva especializada em corridas automobilísticas costuma torcer o nariz para o Grande Prêmio de Mônaco, considerado por muitos uma “procissão”. No entanto, a corrida tediosa de outros anos ficou para trás, ultrapassagens e trocas de posição garantiram a qualidade do espetáculo. A emoção não esteve presente somente dentro do autódromo. Após o término da corrida, o inglês Lewis Hamilton reclamou das punições impostas pelos comissários de prova. A maneira de Hamilton pilotar o seu carro é considerada agressiva por muitos que acompanham os Grandes Prêmios. Seu estilo arrojado e sua técnica apurada já deram ao piloto o título de campeão mundial em 2008, porém nos últimos anos o inglês vem amargando a escassez de títulos.
Na entrevista coletiva concedida após a corrida, Hamilton demonstrou toda sua insatisfação com a direção da prova e disparou, dizendo que se sentia perseguido pelos comissários das provas, que geralmente costumam puni-lo de forma recorrente durante as corridas. Rapidamente, a mídia brasileira se arvorou e tratou de por “panos quentes”, alegando que Hamilton estava “chorando” por não ter tido muita sorte nos treinos classificatórios e durante corrida.
Racismo é tema recorrente
Na época em que Michael Schumacher era o destaque no circo da Fórmula-1, seu estilo de pilotar era tão agressivo quanto o de Hamilton, em alguns momentos chegando a ser desleal com os adversários, e nunca fora punido com tanta frequência. E o que dizer de Alain Prost, que foi campeão do mundo após forçar um acidente e tirar Ayrton Senna de uma prova em Suzuka, no Japão?
Sempre que o tema racismo é abordado, uma parte da imprensa trata a questão com certo descaso, como se fosse impossível a possibilidade de tal fato, como se a Fórmula-1 fosse um esporte plural e de fácil acesso e prática pelas camadas mais populares. Em determinados casos, fica parecendo que o racismo não existe e que os negros que sofrem com a discriminação estão tendo alucinações de cunho persecutório.
Se Hamilton está de chororô, como foi dito por algumas mídias que se julgam especializadas, não podemos dizer, mas cabe à imprensa averiguar os fatos e tocar nas feridas que incomodam a sociedade. Racismo é um tema recorrente, que sempre merece destaque, e não creio que esteja distante da realidade em Mônaco – e muito menos no Rio de Janeiro.
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