quarta-feira, 27 de abril de 2011

A eterna síndrome de “vira-lata”





Real Madrid e Barcelona fizeram a primeira partida das semifinais na Liga dos Campeões da Europa, esse é um jogo cercado de muita rivalidade, não se resume em uma simples partida de futebol, Real X Barça se tornou um confronto político e histórico, uma luta entre espanhóis e catalães.
Os olhos do mundo estavam voltados para o estádio Santiago Bernabeu, casa da equipe merengue, o que há de melhor no futebol estava dentro das quatro linhas daquele estádio. O destaque do jogo foi o argentinho Lionel Messi, com dois gols na partida, a atuação de Messi vinha sendo discreta, mas a expulsão do zagueiro Pepe por falta dura em Daniel Alves facilitou a vida do Clube Catalão.
A vitória do Barcelona e os dois gols do craque argentino consolidam posição do clube, como um dos melhores times de todos os tempos confere ao jogador o status de gênio do futebol mundial. Dentro da Argentina os seus compatriotas olham Messi com desconfiança, o fato de não ter crescido como jogador dentro do país contribui para que isso aconteça dessa forma, o atacante que foi revelado pelo Barcelona clube que defende desde os treze anos de idade. Outro fator que contribui para que o jogador não seja uma unanimidade dentro de seu país de origem, são as fracas atuações pela Seleção nacional o que dificulta a identificação do ídolo com a sua torcida.
Aqui no Brasil é diferente o Argentino é considerado o melhor jogador da atualidade pela mídia esportiva, prêmio foi confirmado pela FIFA em 2009 e 2010, Messi foi tão ovacionado pela imprensa esportiva brasileira, que por alguns instantes era possível esquecer que somos considerados o país do futebol, celeiros de craques que conquistaram o mundo assim como Messi e o seu compatriota Maradona.
Os craques de hoje em dia tem um grande auxílio da mídia, a imprensa esportiva sempre procura buscar comparações entre os craques do passado com os da atualidade, esses comparativos que não acrescentam em nada, e são sempre ganhos pelos craques atuais, pois a documentação dos seus feitos é realizada de forma muito mais eficaz, pois hoje os recursos de edição e armazenamento de imagens são amplamente maiores.
 Toda vez que a Seleção Brasileira enfrenta um adversário pelo qual já tenha sido eliminada, a derrota é sempre lembrada como um golpe fatal em nossos egos. Mesmo que esse adversário já tenha sido derrotado inúmeras vezes, nos servem como exemplo as copas de 50, 82 e 98. Sempre que tais confrontos acontecem, a sensação é de retornar a velha da síndrome de “vira – latas” já dita por Nelson Rodrigues. Será que derrotas não são inerentes ao esporte?
A auto-estima do brasileiro nessas horas encontra-se no pé, até parece que não temos referências vitoriosas. Se Messi é considerado e reconhecido como rei do gol ou do drible, imaginem como seriam reconhecidos Pelé e Garrincha se jogassem nos dias de hoje. A impressão que passa é que temos vergonha de celebrar a vitória e a existência de um costume de cultivar a derrota, aqui não se comemora o segundo lugar, pois quem fica em segundo é considerado o primeiro a ser derrotado, como se fosse possível ganhar sempre. Nos colocamos em um pedestal que na verdade é inexistente. Não suportamos perder e não conseguimos aprender a ver ganhos através das perdas, ficamos sempre presos nessa derrotas, nos comportando como os injustiçados pelo mundo.
Reconhecer o valor de pessoas como Maria Ester Bueno, João de Pulo, Ademar Ferreira da Silva, Zequinha Barbosa ou Joaquim Cruz. Pessoas que fazem parte de um passado recente e esportivo, mas que certamente não habitam as lembranças dos mais jovens, pois não tiveram suas imagens amplamente divulgadas e seus nomes não circulam mais na mídia e nem nas redes sociais. Isso para não citar os jogadores de futebol que marcaram história ao longo dos anos, essa sempre foi uma tarefa muito complicada para o brasileiro que prefere importar referências ao invés de buscá-las dentro de sua própria casa.
Para que isso seja revertido é necessário entender e se localizar dentro da história, celebrar as conquistas das medalhas de prata e de bronze que tem tanto valor quanto a de ouro, entender as lições existentes nas perdas, aquelas que são maquiadas pelas vitórias. Quem sabe dessa forma nos livraremos desse estigma provocado por essa síndrome de vira – latas que volta e meia teima em nos perseguir.

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