terça-feira, 22 de outubro de 2013

A rede social como ferramenta de trabalho





      Em tempos de globalização, conseguimos observar tudo o que foi preconizado pelos pensadores de Frankfurt, por Marshall McLuhan, por Guy Debord e outros teóricos sobre temas como indústria cultural, aldeia global, a espetacularização da notícia e da sociedade. Na era da convergência digital, a rede social tem a sua função potencializada. O trabalho de apuração jornalística, apesar de entender que as grandes pautas estão nas ruas, acaba utilizando a internet como ferramenta de trabalho, portanto seria tolice negar a sua importância.

      Nas últimas semanas, acompanhamos o vídeo que mostrava a atuação de um policial militar nas ruas de São Paulo que, ao perceber um assalto em andamento, saiu do veículo em que estava e feriu o assaltante no momento em que este praticava o delito. As imagens, que foram colocadas em um site de compartilhamento de vídeos, ganharam notoriedade instantânea e pautaram os telejornais do país que reproduziram exaustivamente o conteúdo. Como de costume, especialistas em segurança pública, entre outros especialistas, expuseram as suas análises. Muitos disseram que o policial agiu corretamente e usaram a velha máxima deixada por um ex-delegado – “Bandido bom é bandido morto.” Ideia que foi defendida por muitos debatedores nas mesas das rádios e nas conversas do dia a dia que costumam ser agendadas pela grande imprensa.

      A indignação contra os manifestantes que quebram os caixas eletrônicos das instituições financeiras, assim como vidraças de grandes conglomerados que simbolizam o capitalismo, é total. Mas, quando um policial abate o assaltante é exaltado. A vida vale menos que uma vidraça. É como se o Estado não ajudasse a produzir esse tipo comportamento, ou como se o capitalismo não fomentasse as diferenças sociais. As medidas tomadas são sempre paliativas. Aliás, esse é um momento em que o mundo parece estar de pernas para o ar. Alguns artistas, que foram exilados durante a ditadura militar, resolveram censurar os autores de biografias e passaram a agir como censores. Como se não pudessem recorrer à justiça, reclamam da mídia por não dar espaço para as suas reivindicações e fingem ignorar a relação retroalimentar existente.

      As coberturas jornalísticas feitas pela televisão são semelhantes à transmissão de uma partida de futebol. Permeadas de comentaristas do óbvio, até o formato pode fazer um telespectador mais desatento se confundir. Assim como as transmissões esportivas, os eventos jornalísticos contam com especialistas e câmeras exclusivas posicionadas em ângulos especiais. A grande mídia cumpre com exatidão a sua função de informar sem se aprofundar. A urgência por novas notícias faz com que as fontes fiquem pasteurizadas, tudo se desmancha com muita rapidez, transmitindo a sensação de que a imprensa não tem mais tempo ou paciência para grandes análises ou apurações.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Rock in Rio


O festival de musica Rock in Rio que teve sua trajetória iniciada na década de 80, representou um dos maiores momentos da liberdade de expressão de uma geração que não tinha o costume de ver ídolos internacionais, além de contribuir de forma definitiva com a consolidação do cenário rock’n roll que nascia no país. O brasileiro estava acostumado aos grandes festivais da canção nas décadas de 60 e 70 palco de movimentos como a Bossa Nova, a Jovem Guarda e o Tropicalismo. O primeiro Rock in Rio foi realizado em 1985 apresentava ares de mudança era uma espécie de grito de liberdade de uma geração que nascera sob os grilhões da ditadura militar, e da mão pesada da censura. O país vivia um processo de abertura política lenta e gradual a volta do pluripartidarismo em 1979, as eleições municipais e estaduais diretas em 1982, logo em seguida o retorno dos presos políticos que foram anistiados. Um festival desse porte seria a cereja do bolo, viria coroar os anos de luta contra o governo militar. Os jovens do país estavam em êxtase, era chance de bandas como Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Capital Inicial, Legião Urbana, Blitz dividirem o palco com Queen, Iron Maiden, Whistnakes, Scorpions e AC/DC.
Após um intervalo de seis anos o evento foi novamente realizado, dessa vez o cenário político brasileiro era completamente diferente e o ano era 1991, o palco da vez era o estádio do Maracanã, a modernidade batia a porta, entrávamos na era da instantaneidade o mundo já se encontrava em um franco processo de globalização econômica. Bandas como Guns N’ Roses e Judas Priest que dominavam o cenário musical, iriam se apresentar pela primeira vez no Brasil durante o festival. As bandas brasileiras seriam as remanescentes da primeira edição do Rock in Rio. Em 2001 mais uma edição foi realizada na cidade do Rio de Janeiro, porém grande virada veio no ano 2004 com a internacionalização do festival. Seu idealizador o empresário Roberto Medina resolveu transformar o Rock in Rio em uma marca, um estilo de vida. Dessa vez Lisboa e Madri iriam abrigar o grande festival de música, mas a partir daquele momento seu palco principal seria definitivamente o mundo.
Em 2011 o festival retorna ao seu ponto de partida, com muito mais força na mídia, pois afinal de contas agora possui um “status” de festival internacional. A cobertura jornalista é ampla, uma grande ação envolvendo um planejamento de comunicação e marketing foi desenvolvido e como resultado todas as cotas de patrocínio foram vendidas em tempo recorde, o lucro obtido pelos organizadores do festival foi tão grande que poderiam até abrir mão da venda de ingressos, os lotes se esgotaram em pouquíssimo tempo. Atores, atrizes, celebridades instantâneas e as “personalidades” da mídia disputaram literalmente a tapa os convites para os camarotes vip’s oferecidos pelas empresas que patrocinam o evento. O ex-bilionário Eike Baptista acrescentou a sua coleção de empresas, 50% da Rock World S.A. que é a responsável pelo Rock in Rio. Seu objetivo ao se juntar a Roberto Medina seria o de internacionalizar ainda mais a marca Rock in Rio, com a possibilidade de levar o Festival aos quatro cantos do mundo.
Festivais de música sempre tiveram um caráter revolucionário, o próprio Rock’n Roll é um estilo musical que se notabilizou por ser uma forma de protesto. O Festival de Woodstock, em 1969, foi um movimento contracultura colocava-se em oposição ao sistema capitalista, as desigualdades espalhadas pelo mundo, à guerra fria, pregava o amor livre e foi o auge do movimento Hippie. Uma espécie de grito contra a opressão essa era à proposta feita por tais manifestos. O sistema capitalista transforma em mercadoria tudo aquilo que toca, através de suas práticas mercadológicas e neoliberais. Hoje os tempos são outros, nunca poderíamos imaginar que algumas marcas que sempre foram símbolo de um capitalismo predatório, fossem caminhar de mãos dadas com festivais de rock que sempre foram conhecidos por serem opositores ferrenhos a tais práticas.
O Rock in Rio deixou de ser um grito de liberdade de uma geração que viveu as marcas da ditadura militar e da censura para ser tornar uma marca, “Top of mind”, de uma geração que vive a ditadura do consumo. É essa mesma geração que vai para a rua gritar na manifestação contra os “vinte centavos”, contra a desigualdade, por saúde e educação. Mas, que ao mesmo tempo paga caro para caminhar pelas ruas da Cidade do Rock. O Rock in Rio no começo era aquele garoto que iria mudar o mundo, mas de uns tempos pra cá, passou a frequentar as festas do "Grand Monde". Ideologia! Eu quero uma pra viver.

sábado, 6 de julho de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

sábado, 11 de maio de 2013

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Passagens




Em determinados momentos, as palavras podem causar dor.
Mas, sentir dor também não deixa de ser uma forma de cura.

domingo, 5 de maio de 2013

Passagens




A certa altura vida é preciso, dar uma ordem prática aos pensamentos. Pois, elucubrações em demasia podem acabar se transformando em lamentação sem sentido.

terça-feira, 5 de março de 2013

A hora mais escura da liberdade





O ataque terrorista sofrido pelos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 deu início a uma época de medo e paranoia do povo americano em relação ao inimigo, onde todos os esforços foram realizados na busca pelo líder da al-Qaida, Osama bin Laden. O ataque às torres do World Trade Center foi uma ação inédita. A superpotência nunca tinha sofrido um golpe dessa magnitude em seu ego. O mundo ficou atônito com a queda das “Torres Gêmeas”. Ao contrário do que aconteceu em Pearl Harbor, durante a II Grande Guerra, o atentado no coração de Manhattan foi acompanhando por todo planeta em tempo real e a paranoia antiterror que vinha sendo constantemente alimentada pelo então presidente George W. Bush cresceu de forma estratosférica. Os mulçumanos começaram a ser vistos no mundo como um perigo iminente à segurança nacional na Europa e nos EUA.
O filme A hora mais escura mostra uma agente da CIA que está por trás dos principais esforços em capturar Bin Laden. Por ter descoberto os principais interlocutores do líder da al-Qaida, participa da operação que levou militares americanos a invadirem o território paquistanês com o objetivo de capturar e matar o terrorista mais procurado do planeta. Trata-se de uma obra de extremamente qualificada e o maior mérito da diretora do filme, Kathryn Bingelow, é conseguir criar um ambiente muito natural. Não são apenas os cenários e as situações realistas que mais chamam a atenção durante o filme, e sim como os fatos se desenrolam de forma natural. Muitos disseram que a produção seria uma apologia à tortura. O fato de mostrar que não chegariam à captura sem a tortura e de contar com personagens que defendem a prática com todas as letras, não significa que o filme defenda a prática. A ideia foi trazer à tona a realidade e mostrar que a tortura foi uma das marcas do governo de George W. Bush. A própria produção mostra claramente que com a chegada de Barack Obama à presidência o panorama muda, para desgosto de algumas pessoas dentro da CIA.
Os “38 minutos mais intensos da vida”
Em dezembro, quando os senadores norte-americanos Dianne Feinstein, John McCain e Carl Levin enviaram uma carta ao estúdio de cinema Sony Pictures começou a derrocada da produção na corrida pelo prêmio de melhor filme oferecido anualmente pela academia. Os senadores chamaram o filme de “grosseiramente impreciso e enganoso” por sugerir que a tortura ajudou os Estados Unidos a rastrear o líder da al-Qaida e disseram que o filme “tem o potencial de influenciar a opinião pública norte-americana de uma forma perturbadora e enganosa”. Três semanas mais tarde, Bigelow foi omitida da lista de indicados ao Oscar de melhor diretor, escolhida por cerca de 5.800 profissionais da indústria do cinema que compõem a Academia.
O medo sempre foi um componente importante para o sucesso de ações terroristas, só que a tática antiterror, ao invés de debelá-lo, acaba alimentando esse sentimento, provocando uma sensação de que todos estão desprotegidos. Tais argumentos geralmente são baseados em fatos infundados e na maioria das vezes sem confirmação. O escritor britânico Adam Curtis sugere que a al-Quaida nem chegou a existir, exceto como uma ideia vaga e difusa a respeito de uma limpeza espiritual de um mundo corrompido a partir de atos radicais e religiosos. O governo norte americano, baseado em leis antimáfia, resolveu processar Bin Laden à revelia para assim enquadrar e criar o inimigo a ser batido aos olhos da opinião pública.
A morte de Osama bin Laden se tornou um espetáculo mundial desde o anúncio feito pelo presidente Barack Obama, até as declarações da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton dizendo que aqueles foram os “38 minutos mais intensos da vida”, como se estivesse saindo de uma sessão de cinema.
Quando as armas falam, as leis silenciam
Os EUA, com seu estilo truculento agindo como uma espécie de “exército do mundo” em nome da liberdade, da democracia e do american way of life, provocaram a guerra da Coréia, do Vietnã, a invasão do Panamá, a guerra do Golfo Pérsico e a guerra do Afeganistão. Invadiram o Iraque com a desculpa de que iriam libertar o mundo do terrorista Osama bin Laden, assim como Saddam Hussein, que já fora seu aliado em outras épocas e na guerra contra o Irã. Alegando que o país confeccionava armas químicas para realização de um ataque em massa – tais armamentos nunca tiveram a sua existência comprovada –, museus e relíquias consideradas patrimônio da humanidade foram destruídos durante a ocupação militar no Iraque, fora a chacina comandada pelas tropas de seu exército que deixaram 10 mil civis mortos e 20 mil feridos e as humilhações impostas pelos soldados norte-americanos à população iraquiana. Imagens que correram o mundo através da grande rede mundial de computadores, pessoas que não tinham relação alguma com a guerra em questão, assim como os mortos no atentado de 11 de setembro, mas a memória seletiva do nosso vizinho de cima impede a lembrança de tais fatos. Quem irá prestar homenagem a esses inocentes mortos de forma brutal? Será que essas pessoas não deveriam ser lembradas? Não existem vencedores nessa guerra contra o terrorismo. Os Estados Unidos e al-Qaida são irmãos unidos por uma mesma causa: o fundamentalismo.
A guerra sempre foi um artifício usado para movimentar a economia do país, além de aumentar a popularidade do presidente na corrida para reeleição e ajuda na manutenção do conhecido status quo. O combate ao terror colabora com a proliferação do comércio mundial de armas leves, essas sim, as verdadeiras armas de destruição em massa, que matam mais de meio milhão de pessoas por ano. Soldados e cidadãos comemoraram efusivamente a morte de Osama bin Laden nas ruas do país. Esse é o tipo de manifestação que só aumenta a tensão e a animosidade contra os imigrantes que buscam melhores condições de vida. Hoje o mundo teme que a forte economia norte-americana entre em colapso, possibilidade que tem provocado a instabilidade no mercado financeiro mundial. Constata-se que a cada dia que as cidades estão mais fortificadas, a população se esconde em condomínios fechados, o medo global afeta diretamente as populações locais. Esse é um dos resultados de uma globalização excludente. Atos terroristas ao redor do mundo, atentados como o 11 de setembro, a explosão da estação ferroviária em Madri e o atentado em Oslo, capital da Noruega, são alimentados por práticas que salientam as diferenças sociais, religiosas e étnicas. A sabedoria antiga já nos dizia quando as armas falam, as leis silenciam.