quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Censura ou proteção a arte?



No dia 20 de outubro, a MTV realizou a 17ª edição do VMB, ou Vídeo Music Brasil, um dos prêmios musicais mais esperados do ano, um mega espetáculo com sete shows, três palcos e vinte e nove artistas. A novidade, além da transmissão televisiva, foi a transmissão do evento pela internet – em era de convergência, nada mais natural. Este ano, a MTV encolheu os poderes do público. Desde 2007 a emissora tem ficado refém do público adolescente, que comanda as votações pela internet, o que na maioria das vezes acaba tornando as escolhas questionáveis, devido à qualidade das bandas votadas e à invasão em massa dos fã-clubes. Esse é mais um fator natural em tempos de internet. Recorrentemente, observamos na mídia as comparações entre atletas que brilharam no passado e os atletas em atividade hoje.
Um júri de 104 “notáveis” foi escolhido como uma forma de conter o avanço das músicas tocadas no rádio, que muitas vezes estão em destaque graças a uma prática conhecida no meio que tem o nome de “jabaculê” ou “jabá”. É quando o empresário do artista libera um “agrado” para os profissionais das rádios, uma forma de garantir a música do artista como uma das mais tocadas.
O diretor da emissora aprova a idéia e diz que uma votação menos democrática é uma forma de torná-la mais focada. Em tempos que estamos preocupados com a questão da censura, não creio que essa seja a melhor saída para conter o avanço das bandas teens que costumam faturar a maioria dos prêmios ligados à audiência. A MTV tenta resgatar a sua identidade e retornar às origens quando procura uma forma, mesmo que estabanada, de conter a audiência, mas essa é uma linha muito tênue, pois da mesma forma que contém pode acabar desqualificando a opinião daqueles que acompanham a emissora.
A miscigenação musical
Não podemos esquecer que os maiores vendedores de disco do país sempre foram os artistas considerados bregas ou de qualidade questionável. Nos anos 60, o movimento da Bossa Nova foi a renovação apresentada pela música brasileira – uma série de cantores de gabarito inquestionável foram apresentados ao país, mas não podemos esquecer que esse movimento que ganhou o mundo surgiu na elite carioca, mais especificamente na zona sul do Rio de Janeiro. Quando se analisa profundamente o cenário musical, constata-se que os cantores considerados bregas eram os que faziam mais sucesso entre a população. Já imaginou o que os fãs da grande Ângela Maria iriam dizer se fossem proibidos de votar na grande “Sapoti”?
A partir do momento que se instituem prêmios para classe artística, aumenta-se consideravelmente o alcance da indústria cultural e tais prêmios acabam matando a arte em sua essência. O artista, muitas vezes levado pela pressão de gravadoras, editoras ou empresas de comunicação, sente-se compelido a criar uma obra que atenda às expectativas do mercado. Tais critérios deveriam ser melhor analisados e, ao invés de se criarem prêmios, segmentar, fragmentar, categorizar ou separar a arte. A MTV poderia fazer uma grande festa celebrando a mistura de ritmos e a grande miscigenação musical. Viva a pluralidade!